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- Tempo para hoje: chuva forte e muito vento. A temperatura vai rondar os 38 graus. Prevê-se, ainda, uma grande dor de cabeça.
- O que é que estás a fazer, filho?
- Estou a tentar animar o mano, que está doente.
- E as piadas estão a resultar?
- Acho que não.
- Que pena.
- Deve ser do mau tempo. Ai, que eu não me aguento!
Gosto mais ou menos de Bruce Springsteen. Peço desculpa, mas é mesmo isso. Gosto (só!) mais ou menos, e sempre foi assim. Foi assim, quando o conheci, em 1984, a fazer concorrência no top de preferências adolescentes aos Bon Jovi, à Madonna e ao Bryan Adams. Gostava mais dele do que dos outros, mas, gostava (só!) mais ou menos. "Tens de ouvir para trás", diziam-me. Ouvi: "The River" (lindo!), "Born to Run" (Que explosão de energia!). Mais ou menos, mesmo assim. À medida que as canções iam correndo nos discos, eu ia perdendo o interesse. "Tens de ouvir o lado mais intimista". Ouvi "Nebraska" (boas letras, boas canções, boa voz). Mas, faltavam-me sempre coisas. Faltava-me um baixo pulsante e uma percussão inventiva. Faltava-me um naipe de metais, um coro de vozes negras, uma secção de cordas, uma guitarra funk. Faltava-me aquilo que Bruce Springsteen me dá no novo disco, tudo de uma só vez - que o homem tem fama de ser generoso. Gosto da versão de "Nightshift", a primeira canção que os Commodores editaram, depois da saída de Lionel Richie. É da altura de "Born in the USA" e é uma homenagem a dois mestres da soul: Jackie Wilson e Marvin Gaye. Representa bem o novo disco de Bruce Springsteen, que é (todo ele) uma homenagem aos grandes nomes da música negra. Pode não ser uma obra-prima, pode irritar alguns fãs, pode não ficar na galeria dos discos fundamentais. Mas, a mim, fez-me sorrir. E é melhor (muito melhor) que o Lionel Richie. Continuo a sorrir. Obrigado, patrão!
"Para Carlos Bunga", diz-nos a nossa interlocutora, "a casa é onde nós estamos. E essa casa devia moldar-se a quem vive dentro dela. Sabemos, no entanto, que nós é que temos que o fazer." Carlos Bunga é um artista plástico português. Tem origens africanas, viveu em bairros da lata onde as casas, precárias, são moldadas em função de quem lá vive. Esticam, quando nasce mais um filho ou se recebe uma tia. Encolhem, quando já não é necessário, libertando os materiais para quem deles precisa. Essa experiência terá marcado as obras artísticas de Carlos Bunga, que tem vindo a ocupar alguns dos maiores museus do mundo, com as suas estruturas de cartão e fita adesiva: o precário e descartável, dentro de estruturas solidas, que ambicionam a eternidade.
"Carlos Bunga", insiste a nossa interlocutora, "é um nómada. Faz questão de não ter casa fixa. A casa vai sempre com ele". Lembrei-me de Gonçalo Cadilhe, o escritor-viajante. A dada altura, perguntaram-lhe porque é que insistia em ter casa, se raramente lá estava. Respondeu que precisava de ter uma casa, para onde voltar. Era a casa que fazia dele um viajante. Caso contrário, seria um migrante.
É engraçado, como podemos ter noções e relações tão diferentes com o conceito de casa. O que é que muda? Talvez, a casa de partida.
[Fotografia: Pedro Jafuno]
Deve ser por causa do mundial e coiso, mas está-me a apetecer ler coisas sobre "o mais" isto e aquilo. É altura de "rankings", dos "mais" do mundo: o "mais caro", o "mais rápido", o "mais famoso". Neste caso, optei por o "mais rico". Não sei se é por causa dos relvados - lá da casa dele, em Lisboa - mas, sempre fui "à bola" com o senhor Calouste.
A coisa que eu mais gosto, num dia de greve, é a quantidade de vezes que se ouve a palavra "inalienável".
No início, era a pandemia: o confinamento, o isolamento. O último disco dos Arcade Fire parte daí: da ansiedade ("Age of Anxiety"), da toca de cada um ("Rabbit Hole"). Começa centrado no "eu", mas evolui para um "nós". É um disco de introspeção, mas também de catarse, de redenção e de conexão. Um disco fotografia; mas, também, um disco cartão-postal: "Espero que este postal te encontre bem de saúde" / "Nós, por cá, tudo bem". No fundo, é o disco que eu estava a precisar de ouvir, por estes dias. Um disco que me faz regressar à minha adolescência: quando achava que as canções podiam salvar-me; quando achava que as canções podiam salvar o mundo. Por esta ordem, ou pela ordem inversa.
8 mil milhões, hoje. Confirma-se, somos mais que as mães.