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Humorista, Ricardo Araújo Pereira gosta de fazer rir as pessoas, sem lhes tocar. O humor, defende, deve ter a capacidade de provocar uma reação física involuntária, usando, apenas, palavras. Na rádio, usamos muitas referências visuais. Dizemos "pintar uma reportagem", "tirar retratos", "fazer o filme", "levar ao local". A rádio cria imagens. É os olhos do ouvinte. A televisão também faz isso? Claro que sim, mas usa imagens. Que é como fazer rir, fazendo cócegas.
"Filme para adultos". Acho graça ao eufemismo. Parece que os adultos só veem um tipo de filmes. O que, convenhamos, é uma ideia muito infantil.
A "questão dos chamados 'votos desperdiçados'", escreve Ribeiro e Castro, hoje no DN, "Não é uma questão nova". O nome histórico do CDS explica porque é que há sempre votos que não são convertidos em mandatos. Pedagogicamente, aborda as vantagens e desvantagens dos sistemas maioritários e dos sistemas proporcionais. No primeiro caso, quem ganha, ganha tudo - mesmo que seja por 1% - o quer dizer que pode haver 49% (ou 56% ou 75%) de "votos desperdiçados". No segundo, a questão, sendo atenuada, não desaparece. Isso deve-se a dois fatores: a matemática ("inexorável", escreve o autor) e a democracia ("onde há uns que ganham; e outros que perdem"). Para além da representatividade, Ribeiro e Castro está preocupado com a governabilidade, que seria posta em causa com uma excessiva dispersão dos votos: "Nesse caso, não seriam só os votos que iriam 'para o lixo', mas talvez toda a democracia".
"Eu vou botar um pouquinho de sotaque, um pouquinho só", disse Vinicius de Moraes, antes de oferecer, a Amália, o fado "Saudade do Brasil em Portugal". Foi registado, em 1970, num disco conjunto. Passaram mais de 50 anos, e Caetano (um eterno apaixonado por Amália e pelo fado) repete a gracinha. Bota um sotaque para cantar "Você-Você", com a maravilhosa Carminho - que já cantou o tema de Vinicius e está habituada a cantar com os deuses. A canção está aqui, com um vídeo a registar o momento, mas o disco "Meu coco" merece ser ouvido, de fio a pavio. Começa por nos cantar que "O português é um negro dentre as eurolínguas", para (espero não estar a dar com a língua nos dentes) nos levar aos mais variados "brasis", até desembarcar em "Você-você". Não é, no entanto, o fim da viagem. Depois de um "quase fado", com o bandolim a fazer de guitarra portuguesa, chega a certeza de que "Sem samba não dá". A chegar aos 80 anos, o mais jovem de todos nós, dá-nos um "best off" de inéditos: intemporal e contemporâneo, ousado e familiar. Caetano dá-nos uma obra prima. A obra prima do mano. O mano Caetano.
Estou a apostar no autoconhecimento.
Não estou a gostar nada: sou mais chato do que eu pensava.
Depois de janeiro, chega febreiro. Tempo para umas febras na praia.
Em 1981, os Heaven 17 lançaram "(We Don't Need This) Fascist Groove Thang". A canção fazia alusões a Margaret Thatcher e referências diretas a Ronald Reagen, e alertava para os perigos do racismo e do fascismo. A banda vinha da eletrónica de laboratório, mas adorava "soul" e "funk" e, na melhor tradição da cultura negra norte-americana, fez uma música que apelava à dança, com uma letra que recorria ao calão da rua. "Thang" é "thing", mas eu sempre gostei de pensar que era "tanga". Traduzindo: "Nós não precisamos desta tanga fascista". A difusão da canção esteve proibida pela BBC. A mesma BBC que, 30 anos depois, os convidou para esta interpretação enérgica de "Fascist Groove Thang". Entretanto, passaram 10 anos. A música continua irresistível. A letra continua atual. Demasiado, até. Dancemos, então.