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Por estes dias, a minha rádio voltou a passar a canção "Russians", de Sting. A canção marcou o ano de 1985. Estávamos em plena guerra fria, cheios de medo da guerra nuclear. A União Soviética estava em queda livre e Reagen andava com a cabeça nas nuvens. Os Estados Unidos lançaram um programa para impedir uma guerra nuclear, a partir do espaço. Tinha o nome, oficial, de Iniciativa Estratégica de Defesa, mas ficou conhecido, popularmente, como "Guerra da Estrelas". Este nome dava-nos uma ideia de ficção, de uma brincadeira de crianças muito, muito perigosa. "Russians" fala de Reagan, de Khrushchev, de uma guerra "invencível", do brinquedo mortal (bomba atómica) de Oppenheimer, do amor pelas crianças. A canção passava, muitas vezes, antes ou depois do telejornal e dava-nos arrepios. Os mesmos que sinto, por estes dias, em que voltámos a ouvir "Russians", pelas piores razões.
"Não digam 'russos'", corrigiu a professora de geografia. "Mas eles não são russos?", perguntou o Artur. "Não", corrigiu a professora, "são soviéticos." "É a mesma coisa", insistiu o Artur. "Não seja burro. Só é a mesma coisa, para pessoas ignorantes e preconceituosas". A professora de geografia conseguia ser tão assertiva, que nós traduzíamos a designação "assertiva" por "quilhada", ou outras mais... mais... assertivas. Mas, a professora conseguia, também, ser pedagógica. E, antes de mergulhar - com entusiasmo - nos "colcozes" e nos "sovcozes", lá explicou a diferença entre a Rússia imperialista, dos czares, e a União Soviética generosa, dos socialistas. Na altura, achei que tinha percebido. Hoje em dia, não tenho a certeza.
Esta moda dos homens andarem, por aí, de licra é deprimente. Espero que percebam: as camisolinhas, que vincam a protuberância abdominal, e os calçõezitos, que vincam a protuberância infra-abdominal, são peças de roupa muito, muito feias. Metam isto na cabeça, de uma vez por todas: o "maillot" pode ser bonito, para as meninas dançarem "O Lago do Cisnes"; mas não é bonito para os latagões de meia-idade pedalarem na marginal. Dito isto, se um dia destes me virem a andar, por aí, vestido de licra, podem ter a certeza: não sou eu.
Lembrei-me desta, por causa do dia dos gatos.
- Este gajo não canta nada.
- Não sejas bruto, canta muito bem.
- Achas? Parece um gato assanhado!
- Aquilo é uma técnica.
- Uma técnica, para cantar assim? Não me lixes!
- Sim, muitos cantores usam esta técnica.
- E os gatos também, para chamar as gatas.
Eu ouvi tudo, mas não disse nada. Como gosto de gatos, fiquei caladinho.
Que nem um rato.
Há 250 anos, a Rússia e a Prússia assinaram um acordo secreto para repartir a Polónia.
Felizmente, foi em 1772. Entretanto, os tempos mudaram.
Hoje em dia, nenhuma grande potência tentaria invadir, dividir, ou sequer influenciar um país soberano da Europa.
Estava eu a preparar-me para ultrapassar um camião, na autoestrada, quando este resolve passar para a faixa da esquerda. Percebo que tenta ultrapassar outro camião. Reduzo a velocidade, enquanto sopro para as narinas. O camião à minha frente leva materiais de construção, o da direita leva uns automóveis franceses bem bonitos. Vai atrás de um terceiro camião, que leva galinhas e pintainhos. O camião à minha frente não consegue ganhar velocidade, para ultrapassar os outros dois e encostar. Mantenho-me atrás dele, enquanto se forma uma fila de carros atrás de mim. Olho para o camião ao meu lado - o que leva os automóveis - e faço um gesto de apreciação com o polegar para o motorista, que me responde esfregando o polegar e o dedo médio - como que diz "quer comprar?" Digo que sim, com a cabeça, e ele responde fingindo que assina o contrato de compra e venda. Volto a dizer que sim com o polegar, mas, entretanto, o camião que levava as galinhas entra para a área de serviço e o camião à minha frente consegue, finalmente, encostar. Faço um gesto ao motorista que leva o camião com os automóveis, a pedir desculpa, apontando para a fila de carros atrás de mim. O senhor acena, compreendendo a situação. O negócio foi com os pitos.
Ontem, à noite, a Angela apareceu lá em casa. Assim, sem avisar. A fazer olhinhos. (E que lindos olhos ela tem!) Oh, Angela (como é que eu hei de dizer isto?)! Oh, Angela! Eu... eu... sou um homem casado!
É dia dos namorados. Mas, por favor, não se ponham para aí a dizer que gostam de ouvir baladas do Phil Collins. Porque é meloso. Porque é piroso. Façam como eu. Ouçam-nas, mas não digam a ninguém.
Vejam lá, como ela é moderna! Que nem precisa "de ver a RTP, a SIC, porque, com o Twitter, ficamos a par do que se está a passar, e com mais rigor do que quando é filtrado por alguém". Portanto, Zita Seabra só lê coisas à roda dos 140 carateres, mas gosta do expor o ego ao Sol, em 6 longas páginas. Um ego fresco e jovem, que anuncia a morte do PCP, do PSD e do CDS. E que exaspera com um Portugal envelhecido, que parece um museu. Zita sabe do que fala, porque ela também já foi muito velha. Lembro-me dela, em comícios e debates, com o seu ar de professora de liceu, de saquinho de cabedal a tiracolo, a apontar o dedo a jovens reformistas, como Mário Soares e Cavaco Silva. Mas, entretanto, Cavaco deu-lhe a mão e Zita aproveitou para fazer um "reset". E, depois, um "restyling" completo, com muito liberalismo e Vox e Chega e Salvini e os tweets de Donald Trump. Que bonita, a mocidade Zita!