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Sala cheia

por Miguel Bastos, em 17.09.21

24 hour.jpg

Há uma cena do filme "24 Hours Party People", em que um guitarrista está a tocar numa sala vazia. É desolador. No final, só se ouvem os aplausos do dono do clube. O dono é Tony Wilson, o proprietário da editora Factory (Joy Division, New Order, Happy Mondays). O músico, Vini Reilly, está triste, porque ninguém quer saber da sua música e lamenta não estar a ajudar ao negócio. Tony diz-lhe para não pensar nisso: ele é um génio, a música dos Durutti Column é boa, é arte, e não depende da aprovação das massas. Hoje, escrevi um pequeno texto sobre um disco maravilhoso dos Durutti Column chamado "Amigos em Portugal". Contava com uma sala vazia, mas não importava, porque a música é boa. Mas a sala ficou cheia de gente. Fique contente. Pela celebração da música. Por Vini Reilly ter Amigos em Portugal.

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Amigos em Portugal

por Miguel Bastos, em 17.09.21

durutti.jpg

No início dos anos 80, Miguel Esteves Cardoso estudava em Manchester - a cidade dos Joy Division e da editora Factory. Nessa altura, teve a ideia de criar uma editora, dentro do mesmo espírito, em Portugal. Com a ajuda de jovens músicos, como Pedro Ayres Magalhães e Ricardo Camacho, criou a Fundação Atlântica. Em pouco mais de dois anos, lançaram a Sétima Legião, relançaram os Xutos e Pontapés e editaram este "Amigos em Portugal", dos Durutti Column. A banda, de Manchester (e da Factory), tem um som melancólico, típico do pop-rock britânico alternativo da época, mas remete, também, para uma certa portugalidade de ambientes fadistas. O mesmo tipo de som cultivado por Anamar, Mler if Dada, António Variações, ou, mais tarde, os Madredeus.
 
Achava incrível que os talentosos Durutti Column tivessem escrito, gravado e editado um disco sobre Portugal, em Portugal. Nos anos 80, ouvia "Amigos em Portugal", numa cassete manhosa, gravada por um amigo de um amigo lá de casa, que, entretanto, se perdeu. O disco era muito raro e precioso. No outro dia, cruzei-me com ele e não resisti. Não sou fetichista, nem tenho espírito de colecionador. Mas, confesso, gosto muito de ter este velho amigo cá me casa.

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Fazer o pino

por Miguel Bastos, em 15.09.21
- Olá, pai! Sabes porque é que eu estou a fazer o pino?

- Não.

- Para sacudir a areia dos calções.

- Não era mais fácil tirar e sacudir os calções?

- Não, pai, assim dá menos trabalho. Estás a ver?

- Eu estou, mas acho que tu estás a ver tudo ao contrário.

- Porquê?

- Então, filho, porque estás a fazer o pino.

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Próxima estação...

por Miguel Bastos, em 14.09.21

Aviso: a próxima imagem pode chocar as pessoas mais sensíveis. É dedicada a toda a gente que anda doida com a reabertura de uma estação de metro, na capital do país.

maluquinha.jpg

 

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Sunset

por Miguel Bastos, em 13.09.21

final de tarde.jpg

Adoro a praia, ao final da tarde. O último banho. Os calções que já não vão secar no corpo. O sol a desvanecer-se em laranjas e azuis. A praia a encher-se de deserto, de gaivotas e silêncio. O som do mar. Um cenário quase perfeito. Quase, porque, entretanto, um grupo de jovens resolve ocupar o silêncio. Trazem um telemóvel "4G" e uma coluna "bluetooth". Enchem o areal com batidas "techno". Ah, os jovens - sempre em festa! Distingo, entre os modernos, uma criança. Depois, reparo que dois jovens são muito jovens. E, finalmente, que os outros dois jovens são pouco jovens. Ela, de cabelo apanhado e vestido leve. Ele, de entradas protuberantes e calções de surfista. Os dois a dançar. Jovens, na casa dos 50, de copo na mão e filhos a tiracolo. Todos, animados, para um "sunset", que começo a achar graça. Os mais velhos estão cada vez mais novos. É o que me parece, assim, à vista armada. Armada, sim, que à vista desarmada não vejo nadinha. É da idade. Não perdoa. Tum, tum, tum, tum...

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Adeus, Jorge Sampaio

por Miguel Bastos, em 10.09.21

sampaio.jpg

"Gosto e reivindico a capacidade de me comover". Jorge Sampaio rejeitava, assim, a imagem que lhe colocavam do político palavroso, intelectual, frio e distante. A culpa, dizia o próprio, era da cor do cabelo, que não disfarçava a ascendência britânica. Jorge Sampaio teria características dessa herança familiar: metódico, polido, educado, disciplinado, assertivo. Mas era também latino: afetuoso, sentimental, empático, solidário. Esta manhã, na Antena 1, uma antiga assessora referia que o (então) Presidente da República avisava sempre: não lhe pedissem para ser algo que ele não era; nem para dizer coisas que ele não sentia, nem concordava. O que, em política, não costuma dar bons resultados: nem eleitorais, nem de popularidade. Quando José Sócrates chegou à liderança do PS, Mário Soares chamou-lhe o "anti-Guterres". Jorge Sampaio terá sido o "anti-Soares". Não tinha as características que todos os políticos "têm" de ter: porque não queria ter, nem fingir que as tinha. Colocou-se, como era, à disposição do escrutínio e do sufrágio públicos. Prontificou-se a perder - se fosse necessário. Por vezes, perdeu. E, desse modo, a democracia ganhou sempre. Adeus.

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O Sérgio não está

por Miguel Bastos, em 09.09.21

rui sergio.jpg

Toca o telefone.
- Olá Isabel. Estou bem e tu?
- (...)
- O Sérgio? Ora, o Sérgio...
O Sérgio diz que não, com o indicador e com a cabeça.
- O Sérgio... não está.
- (...)
- Estou-te a dizer que ele não está.
O Sérgio faz sinais ao Rui para a despachar.
- A sério, Isabel, ele esteve aqui, mas já saiu há um bocado, não sei para onde.
- (...)
O Rui tapa o auscultador e murmura para o Sérgio "É por causa dos miúdos, este fim-de-semana".
O Sérgio volta a fazer sinal ao Rui, para a despachar.
- A sério que ele não está...
Murmura de novo: "Ela diz que é urgente".
O Sérgio grita, em surdina, e sopra na franja.
- Olha, o Sérgio diz que se está a borrifar.
- (...)
- Não, não foi isso que ele disse, mas rima. Eu estou a tentar ser bem-educado. Não me leves a mal, Isabel, gosto muito de ti, mas o Sérgio é meu chefe. Agora vou desligar, que vocês os dois dão cabo de mim.

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Trabalhar, mas é!

por Miguel Bastos, em 08.09.21

acosta TIAGO PETINGA Lusa.jpg

Entusiasmado pelo calor da campanha, António Costa resolveu criticar o desempenho dos autarcas do PCP, dizendo: "Nós estamos aqui para trabalhar. Nós não estamos aqui para reivindicar que os outros trabalhem, por conta de nós". Eu, que tenho muito respeito pelos trabalhadores por conta de outrem, estranhei o tom. Fez-me lembrar o "deixem-me trabalhar", exigido por um antecessor de Costa. Ele há tiques...

[Foto: Tiago Petinga / Lusa]

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Suma importância

por Miguel Bastos, em 07.09.21

Quando ouço a expressão "suma, importância", penso sempre que alguém está a mandar a importância embora: "suma, importância"; "desapareça!" Sei que o significado é o oposto. Mas só sei isso, passados dois ou três segundos. E corro sempre o risco de, entretanto, a importância se ter sumido. E é isto. Fui. Sumi.

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