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Filho - Pai, podes-me explicar o que é que está a acontecer no Afeganistão?
Coisa rara: a rádio, nas páginas do jornal. O sr. Macedo, no Público, a falar da rádio - do direto e das diretas. Foi a ouvir rádio (Manuel Alegre, na Rádio Portugal Livre), que o jovem António descobriu a política. Antes, também a ouvir rádio, já tinha decidido o que queria ser quando fosse grande. O que foi (e é): um grande homem da rádio.
Ah, os talibãs: sempre a aterrorizar as mulheres! Desde sempre, em tantos tempos e sítios diferentes.
"Dias depois de Capitine ter emigrado para a Beira Maniara decidiu, também ela, sair da aldeia. Ia juntar-se ao marido. Sendo mulher, contudo, ela estava interdita de se meter sozinha pela estrada. Infelizmente essa regra nunca mudou. Uma mulher que viaja sozinha é uma criatura que caminha despida. Os homens estão autorizados a fazer com ela o que quiserem.
Mais grave do que viajar sozinha era, nesse tempo, uma mulher entrar na cidade sem ser na companhia do marido. Maniara decidiu desobedecer a esse destino."
Não tenho nada contra livros cor-de-rosa. Tenho é falta de tempo. E tenho livros amarelos. Amarelos e belos.
A mesma palavra, para duas notícias, envolvendo dois aeroportos, em dois países diferentes: "caos". "Caos" no aeroporto de Lisboa. O Instituto dos Registos e Notariado não tem capacidade de resposta para os pedidos relacionados com passaportes e as pessoas ocorrem à Loja do Passaporte do Aeroporto de Lisboa, gerando o "caos". Há um outro "caos", logo a seguir, no alinhamento do noticiário. O "caos", no aeroporto de Cabul: onde milhares de pessoas, desesperadas, tentam fugir do país, para salvarem a vida. As palavras têm um peso, que deve ser usado com conta e medida. Chamar "caos" a tudo o que mexe, começa por esvaziar a palavra para, de seguida, nos esvaziar a nós próprios. Nós somos feitos de palavras.
[Foto: Wakil Kohsar / Getty Images]
Nós, os de Aveiro, não trocamos os "bês" pelos "vês". Sabemos que os "vês" existem. São consoantes mudas: veem-se, mas não se ouvem. Com o amor, é o contrário. É um fogo que não se vê, mas que se ouve: por exemplo, nas canções do Cid.
Sabemos muito pouco sobre o Afeganistão. Um país devastado, há várias décadas. Uma espécie de aldeia gaulesa, que resistiu aos poderosos exércitos da União Soviética e dos Estados Unidos. Os talibã são, também, uma espécie de lusitanos, mas mais disciplinados: ou governam, ou não se deixam governar. Não é, no entanto, preciso perceber muito de Afeganistão, para perceber o que aí vem. Os talibã reconquistam o território, a grande velocidade, com a tomada militar de mais de uma dezena de capitais de província. Esta madrugada, caiu a segunda maior cidade do país: Kandahar. A capital, Cabul, está ameaçada. O governo tenta, ainda, salvar a pele, com acordos para a partilha do poder. Os soldados americanos estão de saída, mas, o governo enviou três mil soldados, para retirar o pessoal diplomático de Cabul. Outros países seguem o exemplo. As Nações Unidas pedem, aos países vizinhos, para abrirem as fronteiras. Mais de 3 milhões de refugiados já abandonaram o Afeganistão. Está tudo pronto para a desgraça. Estejamos prontos para as lágrimas de crocodilo.
[Foto: Reuters]
Os Bee Gees já eram estrelas pop, há vários anos. Mas a coisa só começou a piar fininho (muito fininho), a partir de 1975. Foi, nessa altura, que o falsete de Barry Gibb se revelou. A verdade é que os irmãos Gibb adoravam as grandes vozes da "soul music". Em 1967, chegaram, mesmo, a escrever"To Love Somebody" para Otis Redding, mas o cantor morreu nesse ano. Em1972, outra glória da música negra, Al Green, pegou numa canção (já conhecida) dos Bee Gees e deu-lhe o toque "soul" que a canção pedia. Três anos depois, os Gibb perderam a vergonha e - apesar de serem cantores brancos, ingleses e devotos dos Beatles - decidiram abordar a música negra e emular os seus cantores. Alguns milhares não gostaram, alguns milhões renderam-se. Oficialmente, a mudança deu-se a canção "Jive Talkin'" e o álbum "Main course", mas eu acho que começou aqui. Ora ouçam:
Somos uma família de gente pirosa. Felizmente.