por Miguel Bastos, em 21.06.21
- Miguel, tem aqui dois senhores fardados para falar consigo. Digo-lhes para entrar?
Franzo o sobrolho e pergunto?
- Senhores fardados, para mim? Tem a certeza?
Voz irónica, do outro lado da linha.
- Não temos outro Miguel Bastos aqui, pois não?
- Bem, diga-lhes para entrar, por favor.
E foi, assim, que fiquei com dois senhores fardados, em pose militar, à minha frente.
- O senhor chama-se Miguel Bastos?
- Exato. E os senhores vêm-me prender?
Perdem a postura marcial e começam a sorrir.
- Não. Pelo menos, hoje, não é essa a nossa missão. O senhor capitão pediu-nos para lhe entregar isto. Espero que goste.
- Um livro? Gosto, pois. E é muito melhor do que ser preso ou multado.
- Também acho - responde-me um deles - e o livro é uma maravilha. Já leu?
- Só umas partes - confesso - apenas o necessário para a entrevista com o senhor capitão.
- ... que ele gostou muito, já agora. Ah, o livro tem dedicatória.
- Agradeça ao senhor capitão, por favor.
Despedimo-nos. Continuamos a ter receio de pessoas fardadas. Uma parvoíce, claro. As pessoas fardadas são essenciais, para funcionarmos como sociedade. Para além disso, algumas, escrevem realmente bem.