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Não me venham dizer que a pandemia trouxe uma obsessão com papel higiénico. Não é verdade. Pelo menos, no meu caso. Desculpem, mas não enfio a carapuça. A minha obsessão com papel higiénico começou muito antes.
O Dinis parecia um "yuppie" do cinema: a mesma forma de vestir e de calçar; o mesmo tipo de penteado; o mesmo gosto por relógios, carros e mulheres; o mesmo o pragmatismo; os mesmos princípios, ou falta deles. Podem ver o Dinis nos filmes sobre Wall Street, de Oliver Stone e de Martin Scorsese. Quando falava com um cliente, o Dinis dizia "tu vales 10% da minha faturação, tu vales 10% do meu tempo". Se lhe pediam mais tempo, negociava: em dinheiro. Não dava tempo de antena - a ninguém. Nem um minuto, para além da faturação. Custa a admitir, mas, talvez, o Dinis tivesse alguma razão: 10%, pelo menos.
Marcelo Rebelo de Sousa teve um resultado histórico. Ganhou, com mais de 60% dos votos. Um resultado muito semelhante à primeira eleição de Ramalho Eanes, em 1976. Melhor, só a reeleição de Mário Soares, em 1991. Marcelo ganhou, em todos os concelhos de Portugal. Todos. O melhor resultado de sempre. Isto não pode, nem deve, ser desvalorizado. Chama-se democracia.
O jovem timoneiro começou a ficar ansioso. Descíamos, de barco, o grande rio. Uns atrás dos outros. Depois de lutarmos contra a violência de um rápido, perdemos o último barco de vista. "Moço, o que é que está acontecendo?" "Um momento, silêncio", responde o jovem , de ouvido atento e com um olhar de lince, a varrer o rio. "Moço, você está-me deixando nervoso". O timoneiro fez ouvidos de mercador. "Tudo à esquerda". "Moço, eu exijo saber o que está acontecendo". Segreda-me ao ouvido "Vou ter que te pedir uma coisa". "Eu exijo..." "Você não exige nada", diz o timoneiro, "Eu é sou responsável pela vossa segurança, eu é que exijo." Aponta para mim. "Ele toma conta do barco. Você fica quieta e fica calada." Pisca-me o olho e sai do barco, correndo ligeiro pela margem. Volta passado uns minutos. "Está tudo bem", diz ao entrar no barco, "eles vêm aí". "Ai, que susto, minino. Nunca pensei, que..." "Pois não, não pensou. Agora, peço-lhe, não volte a atrapalhar. E, sobretudo, não exija". Lembrei-me desta história, mas já nem sei bem porquê.
As homenagens a D. Afonso Henriques são mais que merecidas. O primeiro rei de Portugal é uma inspiração. Tem a história de muitos migrantes: filho de mãe aragonesa e de pai borgonhês, lutou muito para vencer na vida. Mesmo muito. Devemos-lhe isso.
Há um disco do Carlos do Carmo que se chama "Mais Do Que Amor é Amar". Gosto muito do título, porque nos remete para a ação. Mais importante do que louvar o amor, um conceito necessariamente abstrato, é praticar o amor. Carlos do Carmo morreu, no início deste ano, e eu lembrei-me de partilhar a pequena história de uma entrevista que estava prevista para ser em estúdio, mas que acabou por ser feita ao telefone. Uma coisa minha, corriqueira, mas que me marcou muito e talvez fosse agradar a alguém: 200, 300, 400 pessoas, talvez. As que, habitualmente, me leem por aqui. Mas, o texto teve um impacto surpreendente: no Linkedin, por exemplo, foi lido por mais de 60 mil pessoas. Já me tinha acontecido uma ou duas vezes, nem sempre pelas melhores razões. Por exemplo, por criarem uma polémica que não procurei. Normalmente, encolho os ombros e sigo em frente. Deixo de ser dono do que publico. Desta vez, porém, fiquei, sinceramente, feliz pelo texto ter tocado muitas pessoas. Pelo Carlos do Carmo - pela sua arte, pela sua vida, pela sua voz - mas, também, por achar que se praticou o amor. E estamos tão necessitados dele.
Mais uma fotografia de sabonetes. Que a COVID-21 está para lavar e durar.
Olha-me este, agora! Também quer fazer um "statement", ou não sei quê...
Ficar em casa. Cada um na sua.