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Tenho uma relação especial com este disco, de Sérgio Godinho. "Na vida real" saiu em 1986, numa altura em que eu fervilhava de entusiasmo com a chegada de mais um Rali de Portugal. A disputa entre a Audi e a Lancia foi interrompida, no entanto, pela minha professora de português, que resolveu marcar um teste na véspera e me deixou apeado. Fique sem direito a pó, a direta, a chouriça na brasa, a fogueira, ao nascer do sol na serra. Na altura, o Rali de Portugal era a experiência mais próxima de um festival de verão. Para compensar a minha retenção no cais de embarque, o meu pai ofereceu-me o (então) novo disco de Godinho. Decorei-o de ponta a ponta. Cantei-o ao vivo, pouco tempo depois, na segunda fila do Teatro Aveirense. Perdi o Rali, mas guardei o Sérgio - que continua aí para as curvas. Hoje, faz 75 anos. Parabéns mestre, ainda vamos celebrar as bodas de ouro!
Acampar é uma experiência que deixa sempre marcas. E não é uma metáfora, como podem ver.
Nadar, ler, nadar. Comer. Ler, nadar, ler, nadar. Chego ao fim do dia imerso. Em literatura.
Acampámos em casa dos avós. Somos assim: uma família sempre pronta a armar barraca.
A TVI está a filmar uma telenovela em Aveiro. Muitos dos meus concidadãos mostraram o seu entusiasmo, nas redes sociais. Eu confesso: também estou entusiasmado. Mangas, papaias, compotas caseiras, ovos, sumos e queijos de todas as variedades. Tudo isto servido por criadas de uniforme. Não há pequenos-almoços como os das novelas da TVI. O único defeito é serem servidos depois das 10 da noite. Mas, não se pode ter tudo…
Nestas férias ando a fazer tanto desporto, que resolvi mostrar o meu six-pack. Cá está ele: comprado esta manhã.
Gosto de sentir a passagem do tempo nos objectos. Esta camisola, por exemplo, acompanha-me há mais de 20 anos. Comprei-a num mercado de rua, em Nova Iorque. Nessa altura, a cidade ainda tinha as Torres Gémeas, os Estados Unidos ainda tinham Bill Clinton e o mundo ainda desconhecia a Al-Qaeda. Nessa altura, o mundo estava mais leve e eu também. O mundo foi mudando e eu também. Mudei de emprego, de cidade, de estado civil. A minha camisola foi-se mantendo, mas, agora pressinto-lhe o fim. Não vamos para novos...
“E Ceausescu pede Amália”, escreve Miguel Carvalho em “Amália - Ditadura e Revolução”. Em 1975, o presidente da Roménia comunista estava de visita ao Portugal do PREC e pediu para ouvir a cantora que, por essa altura, em Portugal, era chamada de “fascista” ou “princesa da PIDE”. Antes de ser adoptada pelo Estado Novo como produto de exportação, Amália (como o fado, em geral) tinha sido alvo da sobranceria dos intelectuais do salazarismo. Com o 25 de Abril, voltou a sofrer do mesmo tipo de discriminação. Agora da bancada contrária.
Amália não precisou do 25 de Abril para atravessar a cortina de ferro. Em 1969, esteve, inclusivamente, na capital do império vermelho. Também não precisou do 25 de Abril para cantar as melodias de Alain Oulman, e a poesia de Ary dos Santos, David Mourão-Ferreira ou Manuel Alegre. Fê-lo sem olhar às convicções políticas de quem a rodeava, e isso nem sempre lhe foi reconhecido.
A perseguição política que lhe fizeram, depois do 25 de Abril, foi tão absurda como a apropriação que lhe tentaram fazer, durante o Estado Novo e, mais tarde, durante a consolidação da democracia. Amália nem sempre terá sido hábil na gestão do seu relacionamento com os poderes políticos, mas foi sempre muito hábil na gestão da sua carreira artística. E foi pelo meio artístico que foi sendo resgatada. Não pelos artistas de antigamente, mas pelos novos artistas emergentes de então: António Variações ou Carlos Paião, primeiro; Madredeus ou Dulce Pontes, mais tarde.
“Amália - Ditadura e Revolução” é um contributo rigoroso para conhecermos Amália, no contexto social e político em que a sua carreira se desenvolveu. Mas é, também, um contributo extraordinário para nos reconhecermos a nós próprios: enquanto indivíduos e enquanto portugueses.