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Tenho pensado muito neste fado de Camané. "A minha rua" é um fado tradicional, com uma letra (maravilhosa) de Manuela de Freitas que parece ter sido feita para este dias.
Há quem diga "ainda bem",
Está muito mais sossegada
Não se vê quase ninguém
E não se ouve quase nada.
Eu vou-lhes dando razão
Que lhes faça bom proveito
E só espero pelo verão
P´ra pôr a rua a meu jeito
Há pouco mais de um mês, escrevi este texto sobre Luís Sepúlveda. O meu desejo de que voltasse depressa não se concretizou, infelizmente.
"Há cerca de 6 anos, um bicho manhoso atirou-me para a cama de um hospital. Queria-me matar, o animal! Felizmente, não conseguiu. Mas, entre muitas coisas, o bicho manhoso tirou-me a capacidade, física e mental, de ler. Eu queria ler, precisava de ler, mas não conseguia. Estava demasiado debilitado para romances, ensaios ou biografias. Tentei ler pequenos contos, livros infantis, mas nem esses conseguia. As letras dos jornais tremiam, os livros de banda desenhada trocavam-me os olhos. Passei a folhear novelas gráficas, livros de design, de arquitetura. Mas, faltavam-me as palavras. As primeiras chegaram-me, a custo, num livro de Sepúlveda: a "História de um gato e de um rato que se tornaram amigos" trouxe-me as primeiras palavras escritas, em semanas. O livro, maravilhosamente ilustrado, permitiu-me sair da cama do hospital, para os telhados de Munique, onde a história se desenrola. Hoje, é Luís Sepúlveda quem está doente. Espero que volte depressa para as palavras, que as palavras o levem para onde ele quiser. E, se for possível, que nos leve com ele."
Noutros tempos, os curadores pensariam numa "vernissage", com bossa nova, champanhe e caviar. Mas, a galeria está fechada e as exposições são "online".
Donald Trump é presidente, mas age como um empresário ou como um chefe de família. Desta vez, cortou a mesada à Organização Mundial de Saúde. Saudinha, é o que lhe desejo. Desejo a todos. Mas, a alguns, com muita dificuldade.
“Temos de preparar-nos para o pior, desejando que aconteça o melhor”, avisou o primeiro-ministro, no início da epidemia. O "optimista irritante" recorreu à antítese: uma figura de estilo que ilustra bem estes tempos - que são de luta, mas (também) de esperança. E ter esperança não é conversa dos livros de auto-ajuda. É (mesmo!) uma questão de sobrevivência. Por estes dias, o jornalista Tiago Alves tem trabalhado com a antítese: relatando, vivamente, a vida dentro da cerca sanitária de Ovar; contando, com sobriedade, histórias que nos fazem ter esperança nos seres humanos, ameaçados por um vírus com um nome ridículo, que lembra a pior ficção científica.
Hoje, no programa "Um mundo melhor", em parceria com Ana Rita Ramos, o Tiago conta a história de um casal de refugiados sírios, donos de um restaurante em Lisboa, que está a servir refeições gratuitas, aos profissionais de saúde. Foi a forma, que o casal encontrou, de retribuir a ajuda que recebeu ao chegar a Portugal. É uma história com um final feliz? Não, é uma história em que o "melhor" vem de quem passou pelo "pior". Mas a história está longe de ter chegado ao fim...
Pode ouvir clicando na imagem.
Ideal para dias cinzentos.
Olá, pessoas maravilhosas! Podiam enviar, de novo, aquelas sugestões incríveis para entreter os miúdos e ajudar os adultos a passar o tempo, porque vamos estar de quarentena e mais não-sei-quê? É porque, até agora, não arranjei tempo para ver as vossas sugestões (eram imensas!) e muito menos para as pôr em prática. Mas, pode ser que, entretanto, arranje...
πλύνετε τα χέρια σας. Em português: lavem as mãos. Digo isto, em grego, por três motivos.
Primeiro, porque tenho esperança que, por um segundo, achem que eu domino a língua de Homero (o que, lamento, não é verdade).
Segundo, para vos dizer que este adoro este sabonete, que é grego, tem azeite e cheira mesmo bem.
Terceiro, para vos dizer que lavar as mãos é muito importante: seja em grego, ou em português.
Hoje, perdi a cabeça. Saí à rua, com os meus melhores chinelos de praia, coloquei o lixo no contentor, o papel e as embalagens no ecoponto e regressei a casa. Eu sei que estão com inveja. A minha vida é muito glamorosa, mas não é para todos!