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Somos seis, nesta ala do comboio. O jovem “hipster” está no Instagram. A jovem alternativa consulta o Facebook. Dois jovens “yuppies” vêem uma série no Netflix. O jovem xoninhas (desculpa xoninhas, ficas sem nome “cool”) vê vídeos de YouTubers engraçados. Eu sou o único que não estou (não estava) ligado à rede. Leio um livro sobre pescas.
Hoje, morreu o escritor Philip Roth. Hoje, é dia de aniversário de Eduardo Lourenço. E, hoje, a RTP vai estrear um documentário sobre o ensaísta. Diz o realizador, Miguel Gonçalves Mendes, que é preciso celebrar as pessoas em vida. Não podia estar mais de acordo. Os últimos dias vieram recordar-nos uma evidência: os velhinhos morrem muito. Até aqueles que estavam mais vivos do que nós.
António sorria. Revejo imagens suas, nos jornais e nas televisões, e está quase sempre a sorrir. Ele, que era um homem de batalhas. Ele, que era um homem de princípios. Talvez, porque defendesse convicções. Talvez, porque não confundisse adversários com inimigos. A sabedoria da idade, poderia ser uma ajuda. Mas, nas fotografias mais antigas, também o encontramos a sorrir. Coisa rara na política.
António sorria. Mesmo quando alertava para as ameaças à democracia; para os perigos da austeridade; para os ataques ao Serviço Nacional de Saúde (SNS). Ele, que criou o SNS, em tempos de austeridade, a sorrir. No país do “muito riso, pouco siso”, o sorriso de António era uma benção.
António sorria. Não lhe faltava siso, nem conhecimento, nem experiência, nem trabalho. Trabalhou, de resto, até ao fim da vida. Este ano, editou o livro “Salvar o SNS”, com João Semedo, do Bloco de Esquerda, (outro lutador). Deixou, ainda, uma proposta para renovar o SNS que vai ser discutida e votada no parlamento. E tudo isto, a sorrir.
Ontem, dei a volta ao Zap Canal. Mudar de canal, para ver o mesmo tema, com os mesmos protagonistas. O presidente da assembleia geral do Sporting fez o pleno: rodou por todos os canais, na mesma noite. O presidente do Sporting falou à Nação: numa conversa em família, em direto e em sentido único, como convém.
Antes, durante e depois, foi comentado pelos comentadores do costume. No canal do Estado, um ex-ministro - que foi, até há pouco tempo, apoiante de Bruno de Carvalho - falou do papel regulador do Estado. “O Estado não vai fazer nada”, responde o outro, “porque os políticos não têm coragem.” Com décadas de política, o político corajoso também foi ministro, num governo liderado por um ex-presidente do Sporting. “Ainda esta semana, um comentador ofereceu pancada a outro”, diz o primeiro. “Eu sei quem é”, diz o outro, “é meu amigo”. Claro que é: trabalharam juntos nos jornais, foram juntos para o governo, pelo mesmo partido. Que é, também, o partido do protagonista no canal ao lado: outro ex-ministro, várias vezes apontado como alternativa ao actual presidente do Sporting.
No Zap Canal falou-se de muita coisa. Infelizmente, não se falou de separação de poderes.
Quim Torra é a nova aquisição do Puigdemont FC. Esta tarde, vão dar uma conferência de imprensa conjunta, em Berlim. Não sei porquê, mas Quim Torra parece mais nome de reforço do Salgueiros ou do Amora.
Obrigado Salvador: por nos mostrares que o mundo pode ser melhor.
Obrigado Eurovisão: por nos mostrares que o mundo é o que é.
A Carolina não me interessa. Entrou no Ídolos. Cantou com o filho do Tony Carreira. Lançou um disco meias tintas, em português. E um disco a-armar-ao-pingarelho, em inglês. A Carolina escarrapacha a sua vida no Facebook e põe fotos intimas no Instagram. E tem muito seguidores. E é assunto: nas páginas da imprensa cor-de-rosa e nos programas rosa choque da televisão. Provoca críticas e responde às críticas. A Carolina tem umas tatuagens esquisitas. E exibe sardas e óculos e estrias e celulite e filhos. A Carolina diz e faz dislates.
Mas, a Carolina é "três mulher numa só", como na canção do Godinho, "ar de menina, sapiência de avó". Carolina usou a sua vida para criar um disco terno, intimista, simples e sofisticado. Fala de amor, dos filhos, da família. Chama-se "Casa" e é uma maravilha. Carolina tem talento, muito talento. Canta bem (isso eu já sabia); escreve boas letras e excelentes melodias; tem arranjos maravilhosos e uma produção irrepreensível. Faz uma bela dupla com Diogo Clemente.
"Casa" é das melhores coisas que ouvi nos últimos tempos. E, afinal, quem diz dislates sou eu.
"Que nação queremos ser?", pergunta a jornalista no artigo. "Uma startup nation? Uma green nation? Ou uma innovative nation?” Uma nação, respondo eu, é isso que queremos ser. Eu sei que o conceito provoca comichão. Porque o nacionalismo volta a assustar. Porque o conceito tem vindo a mudar. Porque diferentes etnias ou religiões convivem, cada vez mais, numa nação. Mas há uma base comum: território, tradições, valores ou língua.
... nós iremos/ vós ireis/ eles Irão. Eu sei que o problema é geopolítico. Mas é bom consultar a gramática. Para perceber se o sujeito está bem conjugado com o verbo de ação. E o que nos reserva o futuro.
A ex-namorada de um ex-primeiro-ministro, acusou o seu "ex" de traição. Ex-traíram-se daí inúmeras ilações. Vários ex-dirigentes, ex-ministros, ex-jornalistas, falaram ex-tensamente sobre o assunto. Parece-me tudo muito ex-temporâneo. Que é para não dizer ex-túpido.