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Por causa de Coelho, sacamos um Camões da cartola: "Erros meus, má fortuna..."
Ainda as chamas lavravam em Pedrógão Grande e Castanheira de Pêra. Ainda as labaredas se alastravam em Góis e Pampilhosa da Serra. Ainda o fumo toldava a visão dos que trabalhavam no meio do fogo. E já havia quem exigisse fumo branco. Começou "O Pesadelo em Ar Condicionado", pensei, roubando o título de um livro de Henry Miller.
O pesadelo decorre, invariavelmente, no Monte Olimpo, com os clientes do costume. Uns permancem na frescura do ar condicionado. Outros, deslocam-se aos locais, em viaturas velozes e climatizadas, que replicam o Olimpo em quatro rodas. Chegados ao local (um qualquer, que só tem nome durante a desgraça), permanecem o tempo mínimo exigível e, depois, regressam ao Olimpo: o palco de todas as questões e discussões; de todas as conclusões e ilações.
É, por isso, que é tão importante o trabalho dos repórteres, que permanecem nas terras devastadas pelo fogo. Para que seja ali (e não, no Monte Olímpo) que se fale dos incêndios.. Fala-se com gente real e tangível; que troca os "bês" pelos "vês"; que falha na concordância entre sujeito e predicado. "E agora?", pergunta o repórter Nuno Amaral, na Antena 1. Agora, "é andar para a frente"... diz Lucinda. Ermelinda, sujeita com todos os predicados (nascida, batizada e casada em Alvares, no concelho de Góis), está em concordância com a primeira. Esta gente concorda no essencial, para não se perder nas discordâncias verbais do Monte Olimpo.
Fogos. Em tempo de guerra, não se limpam armas. Agora, com a guerra em rescaldo, talvez já seja. Mas, limpar armas é diferente de afiar facas.
… Foi então que Schindler descobriu o que lhe faltava: a guerra. Os negócios de Schindler prosperavam na Alemanha nazi. Era a primeira vez que tal lhe acontecia. Arranjou um gestor judeu e centenas de judeus, que trabalhavam, de graça, na sua fábrica. Schindler fumava, bebia, publicitava, subornava, e fechava negócios com os nazis. Schindler enriquecia. Os judeus mantinham-se vivos. Todos ganhavam.
Penso em Schindler quando há crises económicas. Ninguém tem culpa de ser pobre. Ninguém tem culpa de ser rico. Mas, quando se enriquece em tempos de crise, a coisa custa mais. Porque fica a sensação que uns lucram com o empobrecimento dos outros. Quantas vezes não ouvimos que a compra de habitação e automóveis de luxo cresce, enquanto a economia se afunda e o desemprego dispara. São negócios da guerra.
Ontem, voltei a pensar em Schindler. Por estes dias, arderam terras e casas e carros e animais. Ardeu gente. E há quem aproveita as casas vazias, para roubar; e quem se faça passar por funcionário da Segurança Social, para roubar. Como se estivéssemos na guerra: na guerra do Schindler.
Final de uma tarde de verão. Pedrógão Grande estava pronta para ouvir música. Senhores e senhoras, com alguma idade, aguardavam. Era sábado. Os trajes eram domingueiros. Havia curiosidade e entusiasmo no ar. A música começou… e começou mal. No final do primeiro andamento, o entusiasmo converteu-se em palmas. O maestro, que já tinha feito gestos e olhares de censura, parou a Sinfonia de Câmara, de Shostacovitch. A obra, explicou, foi inspirada no bombardeamento de Dresden e dedicada às vítimas da guerra e do fascismo. Dresden foi uma das cidades mais fustigadas pela guerra. A música é triste e soturna. Não podia ser diferente. Fala de morte, desespero e destruição. Não combina com palmas, no meio dos andamentos.
Explicada a obra, o maestro pediu silêncio e prometeu divertimentos de Mozart, na segunda parte. O público acatou com dignidade e silêncio e a orquestra tocou como nunca. Na minha cabeça, Pedrógão Grande passou a ser a terra dos que sabia ouvir e homenagear, com dignidade, as vítima da destruição. Saibamos, nós, fazer o mesmo.
Portugal: está de saída. Do procedimento por défice excessivo.
Schäuble: elogia sucesso portugues. Centeno é, de facto, o Ronaldo das finanças.
Ecofin: não confirma interesse em Ronaldo. Mas, também, não desmente.
Centeno: Não fala sobre o seu futuro no clube. Concentração máxima. O adversário é muito forte. É um orgulho representar Portugal. Blá, blá blá...
FMI: esteve em Portugal, por empréstimo. Aceita o valor da transferência: 10 mil milhões de euros.
Ronaldo: Tem vontade de sair do clube, de ficar. De pagar impostos, de ganhar dinheiro. Enfim, chinesises.
China: Não está interessada em Centeno. Ainda.
Theresa May resolveu convocar eleições. Porque o país estava a precisar? Porque perdeu a confiança dos eleitores? Não. Apenas, porque achava que as podia ganhar.
Vamos a um ponto de situação. O seu antecessor, David Cameron, quis ter sol na eira e chuva no nabal. O nacionalismo e o populismo cresceram, dentro e fora do partido conservador, e Camerou achou que podia usar o descontentamento nas negociações com a União Europeia. Ameava sair e, depois, resolvia ficar, com melhores condições. O tiro saiu-lhe pela culatra e Cameron demitiu-se.
Ficou Theresa May que, também, fez campanha pela permanência, e que, agora, é uma entusiasta da saída. Não lhe fez confusão defender uma coisa e o seu contrário. Nem ser primeira-ministra, sem voto popular. Mas as sondagens davam-lhe uma vitória confortavel sobre os trabalhistas e Theresa não resisitiu. Pediu eleições. Só que Corbyn (qual Lili Caneças) provou que estar vivo é o contrário de estar morto. E parece que os trabalhistas vão ter um bom resultado.
Ou seja, May deverá ganhar (mas à justa) e sair fragilizada. Pelo meio, não se discutiu Brexit nenhum; a campanha falou de questões internas e deram-se dois atentados. Atentados que vieram lembrar que foi May quem retirou dinheiro, pessoas e equipamentos às forças de segurança. Teresa queria ganhar por muitos. Mas não vai ganahr nada com isto. Nem ela, nem ninguém. Mas, no fundo, "Ganhar ou perder é desporto".
Ontem lanchei fora. Pão com queijo e meia de leite escura. Sobrou-me um euro. Gastei-o num pastel de nata. Mal pensado. Se o tivesse guardado, tinha comprado um banco.
https://www.rtp.pt/noticias/economia/santander-anuncia-compra-do-banco-popular_n1006555
Sadiq Khan pediu aos londrinos para não se alarmarem com a maior presença de polícia nas ruas. Foi criticado por Donald Trump, no twitter, por não levar o terrorismo a sério. Sadiq Khan já sabia (claro!) que tinham morrido 7 pessoas e que 48 pessoas tinham ficado feridas. Não foi preciso Trump dizer-lhe. Sadiq Khan não respondeu. Disse que tinha mais que fazer.
Sadiq Khan considerou o ataque cobarde e cruel. E que os londrinos não se devem deixar amedrontar. Está zangado e furioso. Mas, apelou à união. E praticou a união: ao lado de conservadores e trabalhistas; de médicos e polícias; bombeiros e líderes religiosos. Disse, ainda, que os terroristas odeiam a democracia. E que a ideologia que defendem é perversa e venenosa. Ele sabe que a luta não entre gente de cor diferente; ou entre gente de religiões diferentes. É entre a democracia e o totalitarismo. Entre liberdade e fanatismo.
Sadiq Khan prestou homenagem aos que morreram. Com gente de todas as cores e religiões. Sadiq Khan disse que os que matam em nome do Islão não o representam. Sadiq Khan é muçulmano. Sadiq Khan é o mayor. É mesmo.
We'll Always Have Paris. Entre o Casablanca e a Casa Branca há mais do que a troca de uma consoante.