Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Durante muitos anos, agarrei-me a Mário Soares. Tinha lido, num jornal, que Soares, sempre fora atento e curioso, mas nunca tinha sido grande aluno. O artigo dizia que havia alunos que não eram bons, porque não queriam saber de nada; e alunos que não eram bons, porque queriam saber de tudo. Era o caso de Soares. Eu assumi que era um desses: “um aluno-Soares.”
Até que descubro, na (excelente) biografia de Soares, de Joaquim Vieira, que o jovem Soares não se interessava por nada. Não gostava de estudar, não sentia curiosidade por nada, que não fosse política. Seria, então, um teórico fascinado pela grandes narrativas políticas? Não, não tinha paciência, gostava mais de acção. Que tipo de acção? Queria ser um grande professor, gerir a escola do pai? Não era bem isso. Queria ser engenheiro ou arquiteto, fazer estradas e pontes? Não, não tinha competências técnicas para isso, nem queria ter. Acção armada? Nem pensar, não é do seu género. Nem sequer irá à tropa. Acção, para Soares, era fazer papéis, colar cartazes, viajar, fazer contactos, fazer discursos. Ou seja, além de ter sido, sempre, um menino-família; Mário Soares já era um boy, numa altura em que não havia “jotas”, nem partidos.