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Paulo Ferreira desvenda, no Sapo, a eterna questão do ovo e da galinha. A propósito dos baixos salários, pergunta: em Portugal, a produtividade é baixa, por causa dos baixos salários, ou o contrário? Para Paulo Ferreira não há dúvidas: os salários são baixos porque a produtividade é baixa. Mas, então, porque é que temos tantos gestores pagos acima da média europeia? Aqui, as galinhas já não explicam.
E, para falar de produtividade, dá o eterno exemplo da Irlanda. Não tenho a certeza que a Irlanda seja um bom exemplo para nós. Grande parte da sua economia vive da ligação aos Estados Unidos, através das suas comunidades e da ligação linguística, e das grandes empresas multinacionais, que se instalam na Irlanda devido à sua fiscalidade competitiva. Sabemos bem o que isso significa: temos fiscalidade competitiva no Luxemburgo, ou no Panamá.
Mas, claro, podemos aprender algumas coisas. Os irlandeses fizeram menos estradas, por exemplo. Aqui estaremos de acordo. Primeiro, devíamos ter aumentado a produtividade e só depois criado as estradas, para escoar os nosso produtos. Como fizemos as estradas primeiro, produzimos o mesmo, moramos no mesmo sítio, mas vamos à terra com mais rapidez. Sobretudo, os que fazem da baixa produtividade, a galinha dos ovos de ouro.
Para que não restem dúvidas: este título foi retirado de uma canção pop dos anos 80, de gosto duvidoso. A canção era uma referência a Amadeus Mozart, transformado em estrela pop, pelo filme de Miloš Forman. Gostava que um músico pop português fizesse algo parecido com o nosso Amadeo. E, se possível, que a música fosse boa.
Amadeo (como Amadeus, em tempos) é um génio a precisar de reconhecimento internacional. Nasceu em Amarante; viveu em Paris; conviveu com os maiores pintores da altura; teve uma carreira de cerca de 6 anos; morreu com 30 anos. E, no entanto, deixou uma obra importantíssima. Profundamente portuguesa, a sua obra está “sintonizada” com as vanguardas do seu tempo. Foi contemporâneo de Picasso e Kandinsky, companheiro de Modigliani e do casal Delaunay. Mas, fora de Portugal, permanece desconhecido.
É, por isso, que a exposição de Amadeo de Souza-Cardoso, no Grand Palais, em Paris, é tão importante. Amadeo chegou a expor naquele espaço, que há pouco tempo recebeu a obra de Picasso, e que recebe visitantes do mundo inteiro. Já disseram que Amadeo é o segredo mais bem guardado do mundo. Está na hora de deixar de ser. Os segredos, ensinou-me a minha mãe, dizem-se alto. Rock me Amadeo.
O congresso brasileiro votou a favor da destituição da Presidente Dilma Rousseff. Foi um espetáculo degradante. Cerca de 60% dos deputados que votaram contra Dilma, têm problemas com a justiça. Sobre Dilma, haverá suspeitas, mas não há acusação. Li, em vários sítios, de que nem é preciso haver. Está na cara! Não sejamos ingénuos: o governo o PT, Lula e Dilma têm muita coisa para explicar. Mas, em caso de assalto, deixar os ladrões a guardar o cofre não é, apenas, pouco prudente. É mesmo estúpido….
Há razões éticas e estéticas para nos arrepiarmos com o espectáculo degradante da votação no congresso: as claques, as canções, as declarações de voto, os empurrões, as dedicatórias. Criticou-se o Governo e o PT por politizar um processo judicial. Mas, o que se viu não foi qualquer tipo de argumentação jurídica. Foi gente a insultar Dilma, a agradecer a Deus, a elogiar a ditadura militar. A humilhar a democracia, na casa da democracia.
Este Brasil mete medo.
Toda a gente estava de olhos postos na Geringonça. “Não vai funcionar”; “Vai cair”; “Vai explodir”, etc. Não caiu. Até Passos Coelho admitiu que se enganou, quanto à Geringonça. Por estes dias, o governo teve graves problemas de funcionamento. Toda a gente estava de olhos postos na Geringonça. Mas o problema foi nos órgãos internos.
O Ministro da Cultura ameaçou dar bofetadas a dois colunistas e acabou na rua. Um dos colunistas, foi homem que inventou o termo Geringonça. Ele tem esse poder. Há ainda problemas com os militares, que, por sua vez, ainda têm problemas com os homossexuais. E, finalmente, um secretário de estado saiu do governo. O governo disse que foi por razões pessoais. O secretário de estado respondeu que não. Foi por divergências políticas.
Entretanto, a Geringonça continua a funcionar. As peças vão sendo substituídas, a oposição finge que se espanta e indigna, os militares fazem barulho, o mundo anda aos papéis. O mundo não pula nem avança. É como a Geringonça. Vai andando…
Gostava de falar do caso dos documentos do Panamá. É um problema dos ricos, que são tão ricos, que não sabem o que fazer com o dinheiro. Não sabem onde o gastar. Nem como o gastar. É um problema grave que, a maioria de nós (felizmente!), não vai ter que enfrentar.
No dia a seguir ao escândalo ter rebentado, Rui Tavares perguntava no Público: “O que é que têm em comum Vladimir Putin e Petro Poroshenko?” e a resposta era “guardam o dinheiro no mesmo sítio”. Que é como quem diz, são adversários, mas não são parvos. São inimigos, mas não são parvos. São ricos, mas não são parvos.
Dinheiro é dinheiro. Pode ser ganho de forma legal ou ilegal; de forma legítima ou ilegítima; à custa de si próprio ou à custa dos outros; cometendo crimes ou sem cometer crimes; ou, mesmo, para cometer crimes. Podem ser democratas ou ditadores; de esquerda ou de direita; artistas ou estrelas do deporto; empresas ou empresários; polícias ou ladrões. É indiferente. O dinheiro, quando é muito, quando é mesmo muito, acaba no mesmo sítio.