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Eleições em Espanha: o PP ganhou, porque ganhou; o PSOE ganhou, não sei porquê; o Podemos e o Cidadãos também ganharam, porque passaram a existir e acabaram com o bipartidarismo. Os Espanhóis estão a ficar parecidos com os portugueses. Todos ganham.
Apesar de ter ganho, PP perdeu demasiados votos e mandatos. Sozinho não se aguenta e, mesmo que conseguisse o apoio dos Cidadãos também não seria suficiente. Portanto, PP sozinho não chega; PP + Cidadãos também não; PSOE + Podemos idem; PSOE + Podemos + Cidadãos é esquisito; PP + PSOE também. Venceram todos, mas não se percebe o quê. Fala-se em mudança, mas não se percebe que mudança é que aí vem.
Em Espanha, havia um partido que ganhava, um partido que perdia, e os outros. Agora, temos um empate. Há mais cenários e narrativas possíveis, mas o fim é uma incógnita. Se for bom, é um filme de David Fincher, se for mau é uma novela da TVI.
Pacheco Pereira tem razão: Marcelo Rebelo de Sousa conseguiu condicionar o tema das eleições presidenciais. Nos últimos anos, não se falou de outra coisa. Quando se falou de eleições legislativas antecipadas, falou-se, também, de presidenciais. Quando se marcaram as legislativas, falou-se de presidenciais. Quando começou a campanha das legislativas, falou-se de presidenciais. Agora, que devíamos estar a discutir presidenciais, falamos de outra coisa qualquer.
Marcelo não condicionou só os media e os outros candidatos da direita. Também condicionou o próprio Partido Socialista. António Costa tem mais estima por ele, do que por Maria de Belém - e não vai mexer uma palha. Manuel Alegre e José Sócrates já chamaram a atenção para os custos que isso vai ter para o PS. Mas já é tarde demais. A “criação” de Sampaio da Nóvoa foi um fiasco; Guterres não estava mesmo interessado; Maria dividiu o caminho para Bélem. O PS vai perder, por falta de comparência. E Marcelo vai mesmo ser entronizado. As eleições serão, apenas, uma formalidade democrática.
“Não pesco nada”, pensei. Os noticiários apontavam para resultados diferentes nas negociações em Bruxelas: “Portugal aumenta as quotas de pesca para 2016” (Antena 1); “Portugal sofreu cortes nas quotas de pesca de espécies como o bacalhau” (Primeiro Jornal - SIC ). Afinal, em que é que ficamos?
Com mais atenção, verifico que, depois, as notícias vão dar à mesma coisa: Portugal perde capacidade de pescar bacalhau ou pescada, ganha em peixes como o biqueirão ou o lagostim. Qual é a questão, afinal? A questão está no enfoque.
Isto vem-nos lembrar que a notícia nunca é “a” realidade. É sempre uma construção. Na Antena 1, valorizou-se o volume das quotas, o que veio contrariar as expectativas. Na SIC, valorizou-se a perda de quotas nas espécies mais consumidas, apenas atenuada pelo aumento das quotas de espécies de menor consumo. Já agora, os noticiários foram editados por dois jornalistas, irmãos, que olharam para a mesma coisa, de formas diferentes. Nuno Rodrigues (Antena 1) viu o copo meio cheio. Bento Rodrigues (SIC) o copo meio vazio.
Tudo na mesma, como a lesma. Se as eleições fossem hoje, a coligação PSD/CDS ganhava, o PS ficava em segundo, seguia-se o Bloco, a CDU e o PAN. Todos os partidos sobem nas intenções de voto. Com excepção da CDU. Mas, como sabemos, a CDU ganha sempre. Portanto, ganham todos. São dados da sondagem da Católica (para a RTP, Antena 1, JN e DN - o gráfico é do DN).
Mais dados curiosos: a maioria dos inquiridos acha que Passos Coelho deveria ter sido primeiro-ministro, que é, agora, um líder mais popular do que António Costa. A maioria dos portugueses, considera que o PS deveria ter viabilizado um governo PSD/CDS. Será que estes dados vão servir reforçar o discurso da “ilegitimidade”, da coligação de direita? Talvez. Mas há outro dado curiosos. É que, a maioria dos inquiridos considera que António Costa é melhor solução para o país, como primeiro-ministro.
Confuso? Talvez não. Passos Coelho é o preferido, mas se não puder ser… Em certos países viria aí uma corrente de indignação. Mas, em Portugal, tendemos a encolher os ombros. Somos um país de gente porreira.
Pacheco Pereira devia sair do PSD. A sugestão foi de um deputado do partido. Quem? Duarte Marques. Quem? Pois, o problema começa aqui. Os jornais andaram a fazer manchetes com uma declaração de Duarte Marques, que ninguém sabe quem é.
Já Pacheco Pereira é bem conhecido. Militou na extrema-esquerda, “centrou-se” na campanha presidencial de Soares, “endireitou-se” com as maiorias de Cavaco Silva. Foi deputado, líder da bancada laranja, vice-presidente do Parlamento Europeu. Mas, conhecemos Pacheco Pereira, sobretudo, dos media. Ele está, há mais de 30 anos, nos jornais, revistas, rádio, televisão, blogosfera. Pacheco Pereira está em todas. Está nos livros, que lê e colecciona, e nos que escreve, com destaque para a extensa biografia de Álvaro Cunhal.
Há pouco mais de um mês, o subdiretor do DN, perguntava-lhe porque é que permanecia militante do PSD se, nos últimos anos, estava sempre a fazer-lhe oposição. Pacheco Pereira responde que o PSD actual, não é o PSD da sua história e mantém a esperança que o PSD recupere a posição charneira entre o centro-esquerda e o centro-direita. Pacheco ainda acredita que o partido mude. Olhando para Duarte Marques, diria que há coisas que nunca mudam…
Enquanto, em Portugal, discutimos se Passos Coelho é do centro moderado, ou se o governo de António Costa é de esquerda radical, há um país onde a direita radical existe mesmo. Em França, a Frente Nacional cresce, de eleição para eleição. O partido de Marine Le Pen tem, agora, mais de sete milhões de eleitores. Em algumas regiões, a percentagem anda à volta de 50%. Ou seja, Marine Le Pen tem, cada vez mais, hipóteses de vir a ser Presidente da República.
Esta possibilidade limita o otimismo que alguns depositavam na recuperação da popularidade de François Hollande, depois dos atentados de Paris. Antes dos atentados, a popularidade de Hollande era mais baixa do que a de Cavaco, em Portugal.
A expectativa de que a Europa estava a virar à esquerda, com a vitória de Hollande, foi contrariada pela eleição de Merkel, na Alemanha. A vitória de Tsipras, na Grécia, foi contrariada pela vitória de Cameron, no Reino Unido. Não se pode, portanto, falar de viragens à esquerda ou à direita. A estrada da Europa tem muitos ziguezagues. Mas, quando a direita é extrema, a Europa corre o risco de se despistar.
Hoje, estive a ver o “The Tonight Show”, com Jimmy Fallon. O seu primeiro convidado foi o actor Daniel Radcliffe. Depois, veio Chris Packham, autor de programas sobre animais, na BBC. E, finalmente, a convidada musical foi Ellie Goulding. “Que engraçado”, pensei, “três britânicos seguidos num programa de televisão americano.” Estava eu a pensar nisso, quando Jimmy Fallon disse, com graça, que o Jonathan Ross devia estar cheio de inveja. Jonathan Ross também é um humorista com um talk show.
Desliguei a televisão e pus-me a pensar porque é que não temos exemplos destes em Portugal. A propaganda fala-nos de uma das línguas mais faladas do mundo, com cerca de 280 milhões de falantes. Mas, depois, não falamos muito uns com os outros. É claro que há um problema de assimetria: destes 280 milhões, 200 são brasileiros. E, diz-se, eles não percebem os portugueses. Mas, basta ouvir a conversa entre Jimmy Fallon e Daniel Radcliffe, para concluir que o inglês deles é muito diferente. E que isso não impede que se entendam.
A circulação de artistas e dos seus produtos é fundamental para o crescimento da língua e da cultura de expressão portuguesa. É uma pena que esta evidência não seja evidente para todos.
“Era uma vez na América” é, talvez, o filme da minha vida. É um retrato da América violenta e conflituosa, entre o luxo e a miséria. Há muitos filmes sobre a América. Leone dedicou-lhe uma trilogia. Scorsese e Coppola têm-lhe dedicado uma vida inteira. Ao vermos estes filmes, tentamos perceber a violência constante que existe na América. A luta pela independência, a colonização do oeste, a Guerra Civil, a emigração, as tribos, os gangues, a lei seca, as tensões raciais, a guerra do Vietname, etc.
Há um ciclo vicioso entre a violência e a cultura das armas, nos Estados Unidos. Parece compreensível que, com “tantos malucos por aí”, as pessoas queiram ter armas. Mas os resultados estão à vista. Ontem, houve mais um ataque. Usaram armas automáticas, que se vendem legalmente, e explosivos. Morreram 14 pessoas. Na rádio e na TV disseram: “Foi o pior acidente do género, dos últimos… 3 anos”. Este ano, já houve 350 ataques deste género. Foi uma tragédia. Sim. Mas, foi só mais uma. E isso é assustador.
Já não há Sol na eira. Só chuva no nabal. Os jornais “Sol” e “i” estão à beira da morte. O grupo angolano Newshold desistiu dos dois jornais. Ambos têm problemas graves, desde o seu nascimento. O “i” nasceu com Martim Avillez Figueiredo (agora no grupo de Balsemão), André Macedo (actual diretor do DN) e o (agora famoso) Grupo Lena. Ao fim de um ano, os proprietários e a direcção do jornal estavam em conflito. Depois, o "i" andou de mão em mão. Agora, chegou aqui. O “Sol” foi mais um jornal fundado (por um ex-diretor) com o objectivo de vender mais do que o Expresso (como o Semanário e o Independente). Os resultados estão à vista.
Espanta-me, pois, ler alguns comentários online: “não prestam”, “já vão tarde”, “não fazem falta”, etc. Os jornais fazem falta. São essenciais à democracia. São fonte de informação, de conhecimento, de entretenimento. Mas, para muitos, nada disso interessa. Nem os mais de cem trabalhadores que vão para a rua. Se ficarem alguns, vão ficar em condições ainda mais precárias.
E, depois, os jornais vão ficar piores. E, depois, dizemos que não prestam. E, com isto, não percebemos que perdemos todos.