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A chave para governar Portugal não está fechada a sete chaves. Está em Chaves - terra de bons pastéis e de bom senso. Chaves era uma espécie de Bélgica, onde à falta de governo, governava-se em duodécimos. De acordo com a reportagem da RTP (minuto 15), a situação não fez alarmar os mercados, mas fez parar obras e pessoal, e disparar o preço da água.
Em Chaves, as eleições para a freguesia da Madalena deram confusão. O PSD ganhou, mas a oposição (o MAI - Movimento Autárquico Independente e o PS ) tinha mais mandatos. De modo que, durante dois anos, a terra ficou ingovernável. O que é que mudou, entretanto? Em Chaves, fez-se um governo de unidade. O PSD ficou com a presidência da Junta e com o tesoureiro; o MAI com o secretário. A presidência da Assembleia ficou nas mãos do PS, o secretariado divido entre o PSD e o MAI.
Portugal inteiro (como dizia o Almada) pode seguir o exemplo? Bem, a presidência da Assembleia já está nas mãos do PS. O PSD, como ganhou, ficava com o lugar de Primeiro Ministro? António Costa, ainda pode ser o vice? E como é que fica o governo de esquerda? E o bigode, ficava para Paulo Portas?
Esta semana, o Sapo Blogs surpreendeu-me com um livro sobre o Independente. O livro sai amanhã, mas os autores já andam a deixar pistas.
Confesso que estou muito curioso para ler o livro. Gostei logo do grafismo: parece uma capa do jornal. E gostei do subtítulo: “A Máquina de Triturar Políticos”. Era isso que faziam. Escolhiam alvos e atiravam a matar, com títulos irreverentes, acutilantes, hilariantes. Usavam trocadilhos, ditados populares e referências da cultura pop. Mas, apesar da juventude, não havia inocência. O Independente tinha objectivos políticos claros: combater a esquerda, o cavaquismo e o PSD, e afirmar uma nova direita. Esta gente “irreverente”, era, afinal, profundamente conservadora. De tal forma, que o PSD e Cavaco eram “de esquerda”. De esquerda, vejam bem!
O Indy acabou porque, afinal, dependia de muitas coisas. Dependia de Cavaco, que saiu do governo; da guerra com o Público e o Expresso, que teimavam em prosperar; do CDS; de Paulo Portas, que, afinal, queria ser político. A sua entrada para a política acabou, simultaneamente, com o jornal e com o CDS, de Manuel Monteiro.
Hoje, Paulo Portas coliga-se com o PSD, vota Cavaco, vai votar Marcelo e adora a Europa. O CDS não cresce. Miguel Esteves Cardoso escreve no Público. O Expresso permanece e lidera.
Não sei porquê, mas lembrei-me dos vencidos da vida...
O futuro ex-ministro da Administração Interna anda cheio de vontade de fazer coisas. Ontem, Calvão da Silva foi a Albufeira falar de Deus e do demónio, a pessoas cobertas de tristeza e de lama e descobertas de seguro. Deve ter saído de lá com a sensação de dever cumprindo. Entretanto, para alegrar o ambiente, mandou marcar duas festas: uma com a GNR, outra com a PSP. Paradas, continências, generais e comandantes. Vai ser linda a festa, pá!
Percebe-se a pressa, mas é tudo demasiado “fora da caixa”. Geralmente, os ministros são mais reservados no exercício das suas funções. Depois, quando saem, são mais analíticos, mais explicativos e mais prospectivos: “eu faria isto, eu faria aquilo”.
Por isso, as televisões estão cheias de ex. ministros. São todos competentes, do ponto de vista técnico, e brilhantes, do ponto de vista político. O que faz com que, cada vez mais, as pessoas queiram ser ex.ministros. A única chatice é, primeiro, ter que ser ministro. Calvão da Silva não percebeu esta coisa simples: não se pode ser ex-ministro, enquanto se está em funções.
A minha irmã vive fora de Portugal há muitos anos. Num destes verões, olhou para meia dúzia de amigos e familiares e exclamou: “parecem os meus amigos árabes!”. Cabelos escuros, bigodes, pele crestada pelo sol. De facto, não é só o Fernando Ruas que parece o Saddam. Há muitos portugueses que parecem.
O “árabe” que me serviu um café, esta manhã, sabe disso. A pele é escura, o (pouco) cabelo está rapado e usa barba. Mas acha que precisa de mais sol. “Faço uns dias de praia e depois peço ao governo para me dar uma casa, como os sírios”, graceja. Em Portugal, andamos assim. Eternamente divididos, entre os que acham que o Estado nos deve dar tudo e os que acham que andam todos a viver “à conta” do Estado.
Este “árabe” é do segundo grupo. Usa umas pulseiras de cabedal e uma camisola dos Ramones “à moderna”, mas é antigo. Muito antigo. Poderia explicar-lhe que não basta ser moreno para ser sírio. É preciso ter família morta, violada, a casa destruída e outros pormenores. Mas não fui a tempo, porque, logo a seguir, ele disse: “Vou sair para apanhar ar. Já volto”. Pois, eles também saem. Mas não voltam.