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Nas montras do comércio tradicional e dos shoppings; nos sites, nos blogs, nas redes sociais, temos “Black Friday". O que é? São saldos, nesta sexta feira. Porquê “Black Friday"? Como não fazia ideia, fui investigar… Podia ter ido à Torre do Tombo ou à Biblioteca do Congresso, mas não foi preciso. Está na Wikipedia. No dia a seguir ao Dia de Ação de Graças (ou deverei dizer Thanksgiving Day?), as lojas fazem aquilo que melhor sabem fazer: vender coisas. E, para venderem muito, baixam os preços. São saldos de Natal, em suma.
Mas isso, não tem pinta (deverei dizer “style”?). “Saldos de Natal” é pelintra. “Black Friday” é “cool”. Confesso que estou a ferver de entusiasmo. A “Black Friday" é a maior invenção desde a “casual friday”, que é quando os executivos brincam aos jovens: irreverentes, mas com o “dress code” adequado. Enfim, são tradições como o “halloween”, o “ice bucket challenge”, ou as “selfies”. Temos uma palavra portuguesa para a “Black Friday”? Temos, é esta: “parvoíce”.
Os políticos têm cor? Aparentemente, sim. Sempre se falou da “laranjinhas” ou dos “vermelhos”. Mas, até agora, a cor era dos partidos, não dos políticos em si. Acontece que, pela primeira vez, temos uma ministra “de cor”. De resto, o governo vai ser liderado por um primeiro-ministro com mais “cor”, do que o costume. António Costa tem origem goesa.
É quase inevitável que a cor dos políticos seja assunto. Do mesmo modo que ser político e mulher, ainda é assunto. Na edição de ontem, o Público começou a sua análise à composição do governo por aqui. Na altura, ainda não se sabia que o governo ia ter um secretário de Estado de origem cigana e uma secretária de Estado invisual. Porquê? “Porque estamos em 2015”, como disse o novo primeiro-ministro canadiano.
O tema da “diversidade” é sempre delicado. Afinal, não se deve convidar pessoas para o governo, “apenas” porque são mulheres, ou negros. Mas, a composição do governo reflete o nível de desenvolvimento de uma sociedade. E aquilo que temos visto, é que a formação dos governos reflete, ainda, uma sociedade estratificada, elitista, demasiado fechada sobre si. Que isso esteja a mudar, só pode ser bom sinal. “Porque estamos em 2015”.
Cavaco chamou António Costa. Chamou ontem, para impor condições. Chamou hoje, para António formar governo. António Costa vai, mesmo, ser primeiro-ministro.
Pela primeira vez, na história da democracia portuguesa, não vai governar quem teve mais votos, mas antes quem conseguiu o apoio no parlamento. Pela primeira vez, há uma solução que inclui os partidos à esquerda do PS. Se isso é bom ou mau, é o que se vai ver.
Toda a gente andou a discutir a questão da constitucionalidade. De repente, ficámos todos constitucionalistas. Depois, discutimos a legitimidade. Bem, foi tudo legítimo. A coligação ganhou, legitimamente, as eleições. O Presidente convidou, legitimamente, Passos Coelho para formar governo. A oposição chumbou, legitimamente, o governo. Cavaco Silva ouviu, legitimamente, quem achou que devia ouvir. E, final e legitimamente, convidou António Costa a formar governo.
Foi tudo legal e foi legítimo. Isso não quer dizer que se ache bem. E que se goste do processo e do resultado. Mas isso, são gostos. E os gostos discutem-se, feliz e legitimamente.
“A vida sem viver é mais segura”, cantava, a partir de Paris, José Mário Branco. A canção chama-se “Perfilados do medo” (poema de Alexandre O’Neil). Foi registada, em 1971, num disco chamado “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”. Mudaram-se os tempo, é certo, mas o medo ficou. Ou, pelo menos, vai e volta. Paris tem medo. Bruxelas tem medo. Berlim, Londres e Madrid também têm medo. Toda a Europa tem medo.
Por isso, escrevi, aqui, que os terroristas vencem sempre. Não precisam de disparar. Basta meterem medo. Ouvi, esta manhã, na Antena 1 a descrição de Bruxelas, uma cidade paralisada. E ouvi soluções mágicas de ouvintes. Com voz de homem e atitude de macho, ditaram: é preciso bombardear o Estado Islâmico, na Síria. Pode ser uma acção necessária. Mas, não percebo como é que isso impede os terroristas de atacar Paris ou Bruxelas. É que os terroristas estão cá. Muitos deles, são de cá. Portanto, o assunto, não se resolve “lá”. Nem se resolve, passando de “Rebanho pelo medo perseguido” a fera que ataca sem sentido.
O problema com o terrorismo, é que os terroristas vencem sempre. Vencem, quando falo do assunto. Venceriam, se o ignorasse. Vencem quando matam. Mas, também, quando falham. Matar (ou tentar matar) uma pessoa (uma só) - no sítio certo, à hora certa - é motivo para colocarem os media, do mundo inteiro, a falar sobre o assunto. Com imagens contínuas, em “slow motion” ou “fast foward”. Com notícias e reportagens em direto. Com comentários de especialistas. Com fóruns de ouvintes e espectadores. Com capas de jornais e revistas. Com o tráfego da solidariedade e indignação online. Os terroristas vencem sempre.
Vencem com o crescimento da extrema direita e da intolerância. Vencem com os discursos “compreensivos”, que evocam o passado colonialista do ocidente ou a falta de políticas de integração. Vencem com as acções militares contra o inimigo. Vencem com o medo, com a raiva, com a violência.
Costuma-se dizer, por graça, que o futebol são 11 contra 11 e no final ganha a Alemanha. Com o terrorismo é a mesma coisa. Só que, neste caso, não tem graça nenhuma.
Desde que Paulo Portas decidiu assumir-se como político, que há muita gente a fazer comparações entre o Portas jornalista e o Portas político. Entre o Portas das perguntas e o Portas das respostas. Entre o Portas da ideologia e o Portas da prática. Ou, entre o Portas dos princípios e o Portas dos compromissos. Lamento informar: não há dois Portas. Só há um. Portanto, não faz sentido especular sobre coisas como “o que diria o Portas jornalista do governo PSD/CDS?” ou “o que diria o Portas jornalista do Portas ministro?” Diria o que lhe apetecesse e o que lhe desse jeito.
Que sentido faz distinguir entre Clark Kent e o Super-Homem, ou entre Peter Parker e o Homem-Aranha? Portas também veste e despe o fato (literalmente), consoante as ocasiões. Mas é sempre o mesmo. Seja o jornalista de convicções e speeds do Independente; o Paulinho das feiras, de parka e boné; ou o ministro Paulo Portas, de fato de estilo inglês. É sempre ele.
Esta semana, Portas esteve no parlamento, como membro do governo, mas já falava à oposição: “geringonça”, “bebedeira coletiva”, “ressaca”. Mas, então, onde é que está o Portas estadista? Está no mesmo sítio, mas já mudou de fato.
Enquanto se fingia discutir o programa do governo, foram chegando as moções de rejeição ao presidente da Assembleia da República. À tarde o governo cairia. Mas antes, pela hora do almoço, numa sala do Parlamento, sem presença de público ou jornalistas, assinaram-se vários acordos “não sei de quê” entre o PS e os partidos à sua esquerda. Primeiro, entrou um partido e saiu. Depois, entrou outro partido e saiu. E, finalmente, o terceiro. Falaram, à vez, com o PS e nem sequer se sentaram. Enquanto o governo afirmava que caía de pé, a oposição de esquerda assinava acordos, de pé.
O DN considera que nem sequer se pode chamar “acordos” aos documentos. É uma “posição conjunta”, cheia de “ses” e “mas”. A “posição conjunta” compromete-se a não votar com a direita uma moção de censura, mas isso não impede que cada partido da “posição conjunta” não possa apresentar as sua própria moção de censura. Nesse caso, António Costa diz que há divórcio. Só que não houve casamento, nem união de facto, nem namoro sequer. Foi uma “one night stand”, à luz do dia. Sem tempo para sentar.
O governo vai cair hoje. E vai cair quatro vezes, que é para não haver dúvidas. Cai de quatro. Ontem, começou a discussão do programa do governo. O governo acaba hoje. Antes, mesmo, de começar. O debate foi pobre, com a repetição de argumentos, de parte a parte. A coligação afirma que ganhou as eleições. A esquerda que tem na maioria no parlamento. É pouco. É curto.
No Parlamento, os líderes das bancadas do PSD e do CDS foram aguerridos e contundentes. No PS, Carlos César ensaiou um discurso de Estado. O Público sintetizou: “Direita travestida de oposição, esquerda em pose de Governo”.
À noite, na TVI, Adolfo Mesquita Nunes, do CDS, colocou bem o assunto. A coligação ganhou as eleições e é verdade é que não tem a maioria. Se ela existir, à esquerda, ela terá legitimidade para formar governo. O problema é que tudo indica que nem o Bloco, nem o PCP, nem o PEV vão ter representação no governo. E aí coloca-se a questão da maioria. Não há maioria. Há um partido, que perdeu as eleições e que vai governar, apenas porque conta ter o apoio dos partidos à sua esquerda.
Se este governo cai de quatro, o próximo nasce feito num oito.
O CDS era contra a Europa e mudou de opinião, para entrar para o governo, acusou António Costa. O CDS respondeu “é mentira” e disse que Costa estava a atirar lama. Esta conversa, de meninos rabinos, tem a sua graça. Argumentos do CDS: o partido já estava a mudar de opinião desde 1998; o Manuel Monteiro é que era anti-europeu; Paulo Portas entrou no partido para “recentrar” o CDS. Bravo, meu caro Diogo! Já agora, não quer explicar que o CDS se encostou à direita com Monteiro, a dar a cara a um projecto político de … PP - Paulo Portas. Ou seja, Portas veio combater a sua própria tendência política.
Quando pensamos em eurocepticismo, lembramo-nos mais do Independente do que das declarações de Manuel Monteiro. Está escrito, Diogo, em papel de jornal. E, agora, até há um livro sobre isso. Portas transformou o seu eurocepticismo em euroconsciência e eurocalma. Dois termos que não estão nos dicionário de ciência política, mas que poderão surgir num qualquer dicionário de disparates.
Diogo Feio quer, assim, atirar areia para os nossos olhos. O que é parecido com atirar lama. Só que tem menos água.
Antes de os ler, ouço os jornais na rádio. Hoje, chamaram-me a atenção para um artigo que eu queria ler. Não fixei, no entanto, onde é que foi publicado. Saio para comprar o jornal a um dos quiosques onde vou habitualmente. Olho para as capas, mas não encontro o que queria. Explico ao dono do quiosque a situação: queria saber qual o jornal onde falavam do tal assunto. Não sabia. “É normal”, digo, “são muitos jornais”. Peço para ver. Não posso. Vem no Público ou no DN. Abana a cabeça. Ainda tentei explicar que eu vou comprar um, só não sei qual. “Não”. Desisti.
Entrou num centro comercial, onde, supostamente, o atendimento é despersonalizado. “Estou a procura de um artigo assim e assim”. “Sabe qual é o jornal?” “Não, por isso é que lhe estou pedir ajuda.” Coloca os dois jornais em cima do balcão: “Esteja à vontade”. Saio com o DN ,debaixo do braço.
O comércio tradicional gosta de vender o atendimento personalizado e depois é isto. Não vou voltar àquele quiosque. O senhor deve trabalhar lá há uns 20 anos e ainda não percebeu para que é que existe. Tenho pena.