Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Herman regressa hoje ao humor. E, ainda por cima, com Maria Rueff. Juntos, trazem de volta uma dupla hilariante: Nelo e Idália. Ela cita existencialistas franceses; ele cantores pimpa. Ela domina a língua portuguesa; ele não domina nenhuma. Nem a sua. Por isso, diz coisas como “paletes de gajas” ou “apertar o círculo”. Ela cerra os punhos para se conter, ele abana a carteira de mão. Ela só pensa nele; ele só pensa no Zé Carlos. Triste e hilariante, ao mesmo tempo.
Nelo e Idália é das melhores criações do humor em Portugal. Nasceram num talk show e agora ganham espaço próprio. Estou entusiasmado. Sempre me pareceu um enorme desperdício ter o grande humorista a fazer concursos e talk shows e a melhor actriz de comédia fora da televisão. A direcção da RTP percebeu isso. Ainda bem. Oxalá o programa resulte.
Com os Gato Fedorento de volta para o exílio e Marcelo fora da TVI, haja alguém que nos traga alegria.
Rui Rio não avança para Belém. Porquê? O ex. futuro candidato explica tudo, no JN. Como sempre, explica bem. Os outros é que percebem mal. Ele seria a garantia de estabilidade. Mas não avança, porque a sua candidatura seria vista como desestabilizadora. Ele quer democratizar a vida nacional. Mas não avança, porque o seu partido não obriga toda a gente a votar nele. Ele tem vantagens sobre os outros, para renovar o regime. Mas, nas circunstancias actuais, os outros candidatos têm aptidões mais adequadas.
Confusos? Rui Rio explica melhor o problema. Ele queria reformar o sistema político, o sistema judicial e até na comunicação social (ó ironia!). E acha que pessoa indicada para o fazer. Ele é o melhor, só que descobriu que os outros não acham o mesmo.
Como, mesmo assim, estamos confusos, vou socorrer-me de Maria de Belém. A candidata apresentou-se, esta semana, e lembrou que o presidente da República não é coroado, é eleito. A mensagem tinha um alvo: Marcelo Rebelo de Sousa. Mas, pelo vistos, acertou em Rui Rio.
Marcelo Rebelo de Sousa apresentou-se como candidato a Presidente, na sexta, e despediu-se como comentador da TVI, no domingo. A TVI fez-lhe uma festa, com pessoas que se cruzaram com ele na estação. José Alberto Carvalho descreveu o momento como “pouco ortodoxo” e jornais como o Público e o Expresso deram uso à expressão.
Na forma, a opção pode não ter sido ortodoxa. Mas, na substância, foi. Aliás, o problema do "fenómeno" Marcelo foi esse. A imagem de comentador ousado, manipulador e traquina foi dando lugar a um Marcelo mais institucional. Durante o espaço de comentário na televisão, os seus interlocutores desistiam de ser jornalistas e passavam a ser seus alunos. Até na forma como se tratavam: ele era sempre o “Professor”, eles eram o “Zé Alberto”, a “Júdite" e o “Juca”.
É pena, Marcelo (e nós) merecíamos mais acutilância. Ricardo Araújo Pereira conseguiu ter alguma, Maria Flor Pedroso também. Mas esses não estiveram na festa. O Marcelo brilhante, controverso, parcial, excêntrico, conspirador, contraditório também não foi. Ficou na (excelente) biografia de Vítor Matos. O da despedida da TVI foi apenas “ortodoxo”.
“Os últimos são os primeiros” é uma frase que me lembra a infância. Quando um meninos perdiam uma corrida ou um jogo de futebol, havia sempre uma mãe, ou um filho da mamã, que dizia “os últimos são os primeiros”. Só diziam depois de perderem, o que me deixava irritado.
Nunca pensei que a nossa esquerda recorresse à frase “os últimos são os primeiros”. Mas anda, há uma semana, a ver se cola. Tenho achado que é bluff. Mas, à medida que os dias passam e o PS se agita, perco as certezas.
Caso não se tenham apercebido, a coligação de direita ganhou as eleições. Perdeu votos, mas ganhou as eleições. Parte dos votos estão no PS e não são de esquerda. Portanto, a “maioria de esquerda" é uma ficção como outra qualquer.
Nunca gostei do conceito de “arco da governação”, que sempre excluiu o PCP e agora o Bloco. Não me choca nada que o PS possa governar, com a ajuda de outros partidos de esquerda. Mas, para isso, convém ganhar. Ganhar mesmo. Fazer bluff tem riscos, mas é legítimo. Fazer batota, não. Os últimos não são os primeiros e ninguém gosta de filhos da mamã.
A noite era de legislativas, mas a TVI resolveu falar de presidenciais. Uma sondagem (mais uma!) dizia que Marcelo Rebelo de Sousa poderá ser o próximo Presidente da República. Marcelo, o comentador, estava a comentar as eleições e foi desafiado a comentar-se, uma vez mais. “Não vou comentar”, disse o professor, “ainda mais em noite de eleições”. José Alberto Carvalho insistiu. Marcelo pareceu incomodado, mas não cedeu.
No dia seguinte, Marcelo comentava “o dia seguinte”. José Alberto insistiu que gostaria que o professor comentasse a sondagem da TVI, sobre presidenciais, uma vez que “já não estamos em noite de eleições”. Marcelo recusou. Quando tiver que falar do assunto, não será na TVI.
A candidatura presidencial de Marcelo é um segredo de polichinelo. Marcelo joga com isso, divertido. Mas, a TVI podia ser mais discreta a tentar vender um presidente. Não lhe fica bem. Emídio Rangel disse que uma estação de televisão, com mais de 50% de share, vende um Presidente da República. Pode ser que sim. Pode, mas não quer dizer que deva. Marcelo sabe disso.
Res publica, significa “coisa pública”, do povo. A expressão, de origem latina, está na origem da palavra República. A República é, portanto, o regime político do povo, para o povo.
Em Portugal, a República era celebrada a 5 de Outubro. Era. Porque, entretanto, a coligação de direita, achou-se no direito de acabar com o feriado que celebrava a coisa pública. Foi incluída nas gorduras do Estado. Houve gente que não gostou muito, mas, diga-se em abono da verdade, não houve grandes protestos. A começar pelo Presidente da (lá está!) República.
Este ano, Cavaco Silva decidiu faltar às comemorações. Alegou que tinha de pensar. Pensar em quê? Que não devia ter deixado cortar o feríado? Que não devia ter marcado as eleições para o dia anterior? Passos Coelho, Paulo Portas e António Costa também não foram. Fizeram mal.
A implantação da república devia ser um dia de festa para todos. Todos os políticos, servidores da Res publica, e todos nós - a razão de ser da República. Em vez disso, foi uma coisa na Câmara de Lisboa, com algumas pessoas. Uma senhora disse o óbvio, na televisão: que Cavaco Silva só era Presidente, porque havia República. Em vez de Presidente, Cavaco foi o Ausente da República.
Ao longo da campanha eleitoral, toda a gente falou das miúdas do Bloco: Mariana Mortágua e Catarina Martins. Os adversários e os comentadores foram elogiando o seu desempenho. Costa disse que Catarina Martins tinha um sorriso bonito; Marcelo enalteceu a sua jovialidade; Marques Mendes - aplicando os seus conhecimentos de ciência política - até referiu o seu penteado. Ontem, cheguei a ouvir que Passos e Portas foram tolerantes com Catarina Martins, para que o Bloco tivesse um bom resultado e Costa perdesse as eleições.
Tudo isto, por mais divertido que seja, revela que a política ainda é o clube do Bolinha. Só que, ao fazê-lo, estão também a menorizar o eleitorado. Se o povo votasse em miúdas giras, era de esperar uma forte votação em duas meninas que saíram do Bloco: Ana Drago e Joana Amaral Dias. Isso não aconteceu.
Há uns anos, Eduardo Barroso disse que, nos anos 70, tinha mais amigos de esquerda, mas que namorava com miúdas de direita. Porque eram mais giras. É natural, a esquerda tinha muitos bigodes. E não era só no setor masculino. Mas, agora, a esquerda tem miúdas giras, que não precisam de comentários machistas ou paternalistas. Só precisam de votos. No caso de Bloco, enquanto os meninos procuravam estudar política nas páginas da Caras, as miúdas giras conseguiram o melhor resultado de sempre. Habituem-se.