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Este fim de semana há taças no futebol. Em Portugal, joga-se a Taça de Portugal. Em Espanha, a Taça do Rei. Em Portugal, toca-se o hino de Portugal. Em Espanha, ameaça-se assobiar o hino de Espanha. Porquê?
Porque as equipas finalistas são o Barcelona e o Atlético de Bilbau. Duas equipas, de duas regiões espanholas com correntes independentistas: a Catalunha e o País Basco. O governo espanhol já veio pedir para se respeitar o hino e as instituições. Uma das instituições é a família real. E verdade, a Taça do Rei é entregue pelo… rei. Que também está sob ameaça de vaias e assobios.
Isto não faz sentido. As equipas jogam a competição e só agora é que repararam que jogaram com equipas espanholas? E só agora é que reparam no nome da competição?
Claro que não. O futebol espanhol está no topo do mundo. O mundo vai estar de olhos postos em Barcelona. E, para alguns defensores da independência, esta é uma oportunidade, que não se pode desperdiçar.
O desporto rei tem destas coisas. Ou então, nada disto tem a ver com o desporto. Nem com o rei.
“O que na política é impensável, no futebol é o normal”, escreve Luís Osório no i.
O futebol é muitas coisas: é desporto, é competição, é espetáculo, é negócio, é poder. É é difícil encontrar jornalistas com capacidade para falar, com a mesma profundidade, sobre todos estes assuntos.
Acrescenta o diretor interino do i (e futuro diretor executivo do Sol): “No futebol, quando um jornalista faz uma pergunta mais agressiva (…), corre o risco de ser destratado e poucos ou nenhuns se questionam quando isso acontece.” É verdade. Basta pensar no que é que aconteceria se um partido, um grupo parlamentar ou um governo entrasse em “blackout”.
Um dos problemas que o jornalismo tem com o futebol é um excesso de identificação entre o observador e o objecto. Muitos jornalistas de futebol falam a mesma língua, vestem-se da mesma forma que os jogadores. Não há distanciamento (algo que também se passa com os jornalistas de economia).
Será que isto explica que a corrupção no futebol não seja devidamente escrutinada, pelos jornalistas? Talvez não explique, mas ajuda.
Aceitava casar com Passos Coelho? Rita Redshoes aceitou. Encontraram-se, por acaso, num restaurante indiano, e ele não lhe resistiu. Compreende-se. Mas, ela também não lhe resistiu. Aí, já é mais estranho.
Este casamento é um sonho. O casamento não se concretiza e o sonho virou história. São 40 histórias de Rita Redshoes, igualmente estranhas, que a levam, por exemplo, a fazer uma aula de pilates com António Costa. Esta moça sonha em grande. Nada abaixo de primeiro-ministro. Um, já é. O outro, poderá ser. Depois isso, já não mostramos surpresa com a Rita a receber Barack Obama, numa festa da mãe.
A Rita sonhou que ia casar com Passos Coelho. Há uns anos atrás, nós sonhávamos casar com a mulher de Passos Coelho. Nos anos 80, era um sonho normal de rapazes. Já o da rapariga, é menos. Talvez seja a razão do título: “Sonhos de uma rapariga quase normal”. É um bom título, melhor do que “Somos o que escolhemos ser”.
A Rita é menos afirmativa. Se Passos Coelho lhe pede em casamento, ela aceita. Mas se os avós lhe dizem “vamos para casa” ela não diz que não.
Indecisa? Talvez. Sonhadora? Certamente.
Houve três eleições este fim de semana. Como não há tempo para falar de Espanha, destaco a mais importante: o Festival da Eurovisão.
A Suécia venceu, com uma canção em inglês que fala de heróis. “Todos nós somos heróis, não interessa quem amamos, quem somos, aquilo em que acreditamos” disse Måns Zelmerlöw. O cantor estava ao lado da senhora de barba rija, que venceu no ano passado.
Na Eurovisão, quase todos abandonaram a sua língua materna. Esta opção torna os ingleses uns tipos esquisitos. São dos únicos que cantam na sua língua. Daí a pontuação fraca. Já os italianos apresentaram a sua versão dos Il Divo, mas ficaram atrás da versão russa da Celine Dion.
Li, hoje, que o cantor sueco está a ser acusado de plagiar "Lovers on the Sun”, de David Guetta. (ver aqui) Realmente, a canção é parecida. Mas, por acaso, havia alguma coisa de original naquele Festival?
Se as eleições espanholas revelaram indecisão do eleitorado, o Festival da Eurovisão já escolheu o seu caminho: ser uma noite de karaoke, com muitas luzes e estudantes Erasmus. Great!
Não antipatizo com os Globos de Ouro. Temos pessoas com talento e acho que as devemos premiar. E há gente bonita, para passear na passadeira vermelha e sentar no Coliseu. E gente interessante para actuar e fazer discursos no Coliseu. O que me custa é acabar tudo a discutir vestidos.
Mas há outra coisa que me faz confusão. Nos Globos de Ouro, há um júri especializado para nomear quem se destacou nas diferentes categorias. Depois, as pessoas votam nos seus favoritos. O que levanta problemas.
Por exemplo, na categoria de teatro ganha sempre por um ator que as pessoas conhecem da televisão. Não quero parecer elitista. O problema não é um ator ser mais conhecido do que outro. O problema é um actor ser nomeado pelo desempenho numa peça de teatro e vencer (ou perder) pela sua prestação na telenovela das nove. É um equívoco que se estende ao cinema e ao desporto. Neste último caso, juntam-se várias modalidades e vence o tipo do futebol. Ou seja, Cristiano Ronaldo.
Nos Globos de Ouro, misturam-se alhos e bugalhos e, ao contrário dos vestidos, nunca vi ninguém a discutir isto.
Para nós também era uma prova dura. Convencer o pai. Encher a Renault 12, com amigos, comida, bebida e cobertores. Fazer uma direta. Procurar um sítio para estacionar o carro e outro para estacionamo-nos. Ver o sol nascer na serra, enrolados em cobertores. Aquecer à volta de uma fogueira. Cantar “os meninos à volta da fogueira”, a rir e a esfregar as mãos. Ouvir os motores, levantar de repente e ver os carros a passar por nós, a levantar pó, a desaparecer, a serpentear, lá longe, pela serra.
Depois a desilusão de sempre. Vê-se melhor em casa: com câmaras, imagens editadas, repórteres e comentadores. Mas a televisão não tem o cheiro a escape, os “rateres", a emoção. Muito menos os cânticos, as conversas, a chouriça na brasa. E, por isso, voltávamos no ano seguinte
O Rally de Portugal era uma festa. Era a coisa mais parecida com um festival de rock. Só o soube mais tarde, quando a moda dos festivais chegou a Portugal. Voltei a sentir a mesma excitação, a mesma alegria, o mesmo cansaço.
Olhei para a Manuel Azevedo, no palco. Pareceu-me ver a Michèle Mouton.
PS: Lamentavelmente, um incêndio em Ponte de Lima perturbou hoje o Rally de Portugal, mas, pior ainda, a vida das pessoas daquela região.
Tenho simpatia pelo jornal i.
Apresentou-se como um jornal jovem, fresco, com um linguagem arejada e um bom grafismo. Era liderado por Martim Avillez Figueiredo e era propriedade do (agora muito conhecido) Grupo Lena.
O lançamento de um jornal é sempre uma festa. O i apareceu em contraciclo. Abriu, quando toda agente estava a despedir e a fechar. Mas a festa durou pouco. O dinheiro acabou cedo e Martim deixou o seu jornal.
O i já vai em sete direcções. Há quinze dias, a propósito do sexto aniversário, o diretor Luís Rosa descrevia um jornal mais competitivo, com mais leitores em papel e online, com mais feedback. Um jornal que apostava na investigação e que conseguia ser, simultaneamente, popular e de referência. O então diretor escreveu palavras como “orgulho”, “acreditar”, “alento” e “convicção”. Uma semana depois, demitiu-se.
As noticias na imprensa foram lacónicas: diretor demitiu-se, administração aceitou e mais nada. Os jornalistas são péssimos a falar de si próprios.
E pronto. Uns dias diz-se que os media são muito poderosos, outros parece que não têm poder nenhum.
i agora? O que é que se segue?
PS: Desejo boa sorte ao diretor interino, Luís Osório. Vai precisar.
“Quem não tem cão, caça com gato”. Assim diz o ditado. Mas, eu também não tenho gato. Tenho o SAPO.
Também não tenho Facebook, mailing list, ou outra forma de o promover. Tive a ideia de começar a escrever um blog, pelo gosto de escrever. Para manter os dedos ágeis e a cabeça a funcionar. Não promovo, nem comento com amigos, o que ando a escrever. Lançar-me assim, no meio da multidão, é correr o risco de passar invisível. Não tinha a noção de que se escreve tanto. Escrevo um post e, ao mesmo tempo, vejo mais meia dúzia deles publicados. Há muita gente a escrever.
Eu também escrevo. Escrevo apenas. E tenho o SAPO.
Em pouco mais de 20 posts, esta é a terceira vez que me destacam. Obrigado ao SAPO. E obrigado a todos, por lerem e comentarem.
Um abraço,
Miguel
Era uma vez um senhor que comprou um carro novo. O senhor era um jovem pai de família, professor de economia e finanças. O carro, era um belo carro: um Citroën BX a precisar de rodagem. Podia ter ido ao Algarve, a sua terra natal. Podia ter ido ao Alentejo ou apanhar uns ares da serra. Mas não. Estava bom tempo e apeteceu-lhe ir à praia.
Por acaso, e só por acaso, foi à Figueira da Foz. Presumo que seja a praia mais próxima de Lisboa. Por acaso, e só por acaso, era lá que decorria um congresso partidário. Resolveu espreitar. Parece que o senhor que ia ganhar, era bom de contas. Mas as suas eram melhores. Foi eleito. Por acaso. Um acaso, que faz lembrar a história de um outro professor de finanças.
Cavaco Silva rodou o seu Citroën BX há trinta anos. Depois disso, já mudou de carros, já mudou de cargos, mas nunca se meteu na política. De resto, o senhor nunca quis ser político, nem se considera político.
Eu ainda acho que os professores são uns senhores que dão aulas. Mas o defeito deve ser meu. E gosto mais de homens com ambição política. Duram menos tempo.
O Benfica é o novo campeão de Portugal. Se eu percebesse de futebol (pelo menos um bocadinho) poderia discutir a presidência de Luís Filipe Vieira, a liderança de Jorge Jesus, ou o nível do plantel. Ou então, os deméritos dos adversários. Mas, não é o caso.
No entanto, acho alguma graça ao personagem Jorge Jesus. E não deixo de reparar que ele (apesar de todas as dificuldades com a língua portuguesa) é português. Ao que parece, um bom português. Acaba de conquistar mais um título para o Benfica. E pela segunda vez, consecutiva.
Ao passar os olhos pelos jornais de hoje vejo outros treinadores portugueses campeões: André Villas-Boas é campeão, na Rússia, e Paulo Sousa, na Suíça. Juntam-se, assim, a Vítor Pereira, na Grécia, e José Mourinho, em Inglaterra.
Temos jogadores e treinadores espalhados pelos melhores clube do mundo. Acho que não restam dúvidas. Somos bons no futebol. Devemos ter orgulho nisso.
PS: Obrigado ao Sapo por ter promovido a discussão sobre o Acordo ortográfico. E obrigado a todos os que discutiram o meu último post.