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Ouvir filmes

por Miguel Bastos, em 24.04.15

dias da musica ccb.jpg

 

 

«A música», dizia Hitchcock, «a música é o segredo!». Este ano, o programa dos Dias da Música, do CCB, é dedicado ao cinema. Pensamos no génio do suspense e pensamos na cor, no movimento da câmara, nos actores. Mas o segredo, pelos vistos, está na música. Neste caso, de Bernard Herrmann. Que assusta. E muito.

 

Kubrick herdou essa preocupação. Conta-se que voltava a filmar uma cena, por causa  da música. Deu-me a ouvir o Danúbio Azul, de Johann Strauss II, ou o Assim falou Zaratustra, de Richard Strauss. Só depois é que vi o filme 2001: Odisseia no Espaço. 

 

Como seria a cena final do Platoon, sem o Adágio de Cordas, de Barber? Como seria a cena dos helicópteros do Apocalipse Now, de Coppola, sem a Cavalgada das Valquírias, de Wagner? Conseguem imaginar a Pantera Cor-de-Rosa, sem a música de Mancini?

 

A música e o cinema namoram muito. Por vezes, a coisa dá em casamento: Nino Rota e Frederico Fellini; John Williams e Steven Spielberg; Ennio Morricone e Sergio Leone.

 

Gosto muito de música para cinema e de música no cinema. Bela escolha, a do CCB.

 

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Livros

por Miguel Bastos, em 23.04.15

Hoje, para não dizer parvoíces, trago Caetano Veloso.

 

Podem ver e ouvir, carregando na imagem.

livros caetano veloso.jpg

Ou ler...

 

Livros 

 

Tropeçavas nos astros desastrada 

Quase não tínhamos livros em casa 

E a cidade não tinha livraria 

Mas os livros que em nossa vida entraram 

São como a radiação de um corpo negro 

Apontando pra a expansão do Universo 

Porque a frase, o conceito, o enredo, o verso 

(E, sem dúvida, sobretudo o verso) 

É o que pode lançar mundos no mundo.

 

Tropeçavas nos astros desastrada 

Sem saber que a ventura e a desventura 

Dessa estrada que vai do nada ao nada 

São livros e o luar contra a cultura.

 

Os livros são objetos transcendentes 

Mas podemos amá-los do amor táctil 

Que votamos aos maços de cigarro 

Domá-los, cultivá-los em aquários, 

Em estantes, gaiolas, em fogueiras 

Ou lançá-los pra fora das janelas 

(Talvez isso nos livre de lançarmo-nos) 

Ou ­ o que é muito pior ­ por odiarmo-los 

Podemos simplesmente escrever um:

 

Encher de vãs palavras muitas páginas 

E de mais confusão as prateleiras. 

Tropeçavas nos astros desastrada 

Mas pra mim foste a estrela entre as estrelas.

 

Isto é o que eu diria, se fosse um génio.

 

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Confiar na sorte

por Miguel Bastos, em 22.04.15

euromilhoes.jpg

  

Podia começar assim: "Enquanto o governo via as contas do PS, os portugueses faziam contas à vida". Mas, a frase anda longe dos factos. Primeiro, porque antes do PS apresentar as suas contas a oposição já tinha ensaiado o seu discurso do “estamos de volta a 2009”. Segundo, porque os portugueses, em vez de fazer contas, apostam nos jogos da Santa Casa. As contas foram apresentadas hoje. Diz-nos o Expresso: “Jogos da Santa Casa registaram máximo histórico em 2014”.

 

Um país em crise, com a Troika à perna, com cortes na saúde e na educação de que não há memória, com taxas de desemprego recorde, com uma emigração que lembra os anos 60, gasta 1880 milhões em Euromilhões e Raspadinhas.

 

Por isso, acho graça ao argumento do cheque em branco: “Os portugueses não querem voltar a passar um cheque em branco, nas próximas eleições”.

 

Vejam as contas da Santa Casa. Os portugueses são especialistas a passar cheques em branco. No ano passado, passaram um cheque de quase dois mil milhões. Com um pouco de sorte, até podem ficar milionários. O melhor, é confiar na sorte.

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Europa, bela e adormecida

por Miguel Bastos, em 21.04.15

churchill memorias.jpg

 

Ando a ler as "Memórias da II Guerra Mundial", de Winston Churchill. O que mais me impressionou, até agora, foi o estado adormecido da Europa, nos anos que antecederam a Guerra.

 

Às vezes as pessoas perguntam “”como é que foi possível?”. E aponta-se um guerreiro louco, megalómano e cruel. Hitler foi isso tudo. Mas, não chega como explicação. Porque, o normal era que um tipo daqueles fosse preso, ou internado, ou morto. Mas não foi. As suas palavras iradas foram acolhidas numa Alemanha humilhada, e não foram contrariadas pelos países europeus: por ingenuidade, por fraqueza ou por conveniência. É chocante que a Polónia tenha anexado partes da Checoslováquia, depois da invasão alemã. Ou que os soviéticos tenham anexado vários países, ao abrigo de um pacto com os nazis. Depois, foram eles os invadidos. Churchill critica, ainda, as políticas “pacifistas” dos franceses e dos ingleses. Os primeiros, foram arrasados num mês. Os segundos aguentaram a guerra sozinhos, até à entrada dos EUA.

 

Às vezes, parece que a Europa aprendeu pouco e mudou pouco. Basta ver como tanta gente acaba de descobrir que há morte e miséria em África e no Médio Oriente.

 

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O peso certo?

por Miguel Bastos, em 20.04.15

fernando mendes.jpg

 

Há muito tempo que se discute a pertinência de um programa como “O preço certo”, na RTP. Será que aquilo é serviço público? Excursões de velhinhos, com o apoio da junta. Produtos regionais, postais e galhardetes. Beijinhos e piadas de revista. Um apresentador anafado, rodeado de assistentes filiformes. Expétácuulo!

 

“O preço certo” dura e dura… E dura, porque o público quer que dure. Contra as pressões dos canais privados, dos críticos de televisão, dos politicamente correctos, dos intelectuais do “género” Nuno Artur Silva.

 

E o que nos diz o agora administrador da RTP? Que o programa é para continuar. Porquê? Nuno Artur explica, ao DN.

Porque:

  • é um fenómeno de audiências.
  • é uma marca da RTP
  • Fernando Mendes é uma figura da RTP
  • a RTP é uma televisão para todos
  • não há qualquer intenção de acabar com a programação popular

 

Muita gente achará surpreendente esta posição de Nuno Artur Silva. Julgavam-no mais esquerda caviar. O homem é pragmático e consistente. Mudar a RTP não passa por destruir o que está feito, mas por fazer o que falta. Com peso, conta e medida.

 

Devia ser assim, em todos os domínios. A começar por esta coisa chamada Portugal. 

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Todos no mesmo barco?

por Miguel Bastos, em 17.04.15

barco de refugiados.jpg 

 

Ficámos, hoje, a saber que doze cristãos foram lançados ao mar, por muçulmanos.. Estavam, todos, num barco de refugiados, a caminho da Europa. Vinham de Costa do Marfim, da Guiné e do Senegal. Vinham, todos, à procura de uma vida melhor. Mas isso, aparentemente, não os aproximava em nada.

 

O mundo está, cada vez mais, confuso. Não faz sentido olhar o mundo com uma grelha pré-concebida que classifica religiões, povos ou países como “bons” ou “maus”.

Não percebi o entusiasmo ocidental com a Primavera Árabe, por exemplo. Claro que não havia simpatia com os ditadores e os seus regimes. Mas, o islamismo radical não era um coisa nova. Onde estão, agora, os bons e os maus: no Iraque, na Síria, ou na Líbia?

 

Em África e no Médio Oriente há agredidos que passaram a agressores e vice-versa. No barco dos refugiados, os muçulmanos atiraram cristãos ao mar. Noutro contexto, poderia ter sido ao contrário.

 

De facto, não estamos todos no mesmo barco. Nem eles. Por isso, é que uns foram borda fora.

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Cidade fantasma 

por Miguel Bastos, em 16.04.15

Na minha cidade havia uma praça, onde se encontravam vários serviços e instituições: a câmara municipal, a biblioteca, o posto de turismo, as finanças. Primeiro, a biblioteca foi para um edifício recuperado, mais arejado, e ninguém reclamou. Depois foi o posto de turismo, também para um edifício recuperado, e toda a gente gostou. As finanças mudaram-se para um rés do chão de um prédio, numa zona nova da cidade, e ninguém contestou. Finalmente, a câmara mudou-se para outro edifício, usando o antigo apenas para actos oficiais. Ninguém estranhou. À volta, esvaziaram-se lojas, cafés e restaurantes.

 

Um dia, o presidente da Câmara olhou à volta e comentou com os jornalistas que a praça estava muito vazia (A sério? Só agora é que reparou? E de quem será a culpa?) e que era preciso fazer alguma coisa (E quem é que vai fazer, os mesmos que a abandonaram?).

 

Esta história, contada assim, parece uma fábula. Mas é um retrato do que se tem passado, em Portugal, nas últimas décadas. Primeiro, abandonam-se as cidades à sua sorte. Depois, inventam-se programas para as repovoar, como o Polis. Com isto, perde-se tempo e dinheiro, mas, sobretudo, qualquer noção de Pólis.

 

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Para começar… a rádio

por Miguel Bastos, em 15.04.15

radio i phone.jpg

O meu primeiro contacto diário com os jornais começa… na rádio. A revista de imprensa de João Paulo Guerra, na Antena 1, é uma óptima maneira de começar o dia. Tem uma selecção de temas criteriosa, tem comparação, tem um olhar crítico, tem humor. E tem a credibilidade de um decano do jornalismo.

Só mais tarde chegam os títulos ao telemóvel. Só mais tarde chego ao computador,  ou ao quiosque, para saber o que o mundo andou a fazer, enquanto eu dormia.

A rádio tem essa capacidade. Chega depressa e não nos faz perder tempo. Bem sei que muita gente acha este media antigo e até anacrónico. No telemóvel, no tablet ou no computador “tenho a informação que quero,  quando eu quero”. Há, até, um slogan que parece resumir essa realidade: “As notícias não escolhem hora certa”. Só que esse slogan é de uma rádio: a TSF.

A rádio não ocupa espaço, nem ocupa tempo. Notícias no telefone ou no tablet? Não dá jeito, enquanto se lava a cara, se escovam os dentes, se prepara o pequeno almoço. Enquanto faço isso, vou sabendo do mundo. Quando chego aos outros media, já sei por onde começar.

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Vai uma pinguinha?

por Miguel Bastos, em 14.04.15

ivone silva camilo.jpg

Acho que o célebre dueto Ivone Silva/Camilo de Oliveira não passaria hoje na televisão. Duas vedetas da comédia, bêbadas, a cantar “Que rico vinho” e “Vai uma pinguinha?”, seria visto como um mau exemplo. Ainda por cima, na televisão do Estado.

 

Vem isto a propósito da intenção do governo proibir a venda de álcool a menores de 18 anos. Pretende-se acabar com a distinção entre cerveja e vinho e bebidas destiladas. Dizia um senhor que era igual beber dois “shots" de vodca ou uma garrafa de vinho. O resultado é uma bebedeira. Porque é que não comparou uma garrafa de vinho com uma garrafa de vodca?

 

Também ouvi referências à Europa. Desculpem, um dos problema que temos é uma aproximação dos jovens portugueses ao tipo de consumo europeu, que varia entre a abstinência e a bebedeira de caixão à cova.

 

Falou-se da importância dos pais. Bem, eu comecei a beber vinho com o meu pai.

 

A primeira vez que fui jantar fora com a minha namorada tinha 17 anos. Comemos sopa e peixe grelhado. Bebemos vinho branco. Preparam-se, agora, para criminalizar esse acto hediondo.

 

“Está tudo grosso, está tudo grosso.”

 

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A morte saiu à rua

por Miguel Bastos, em 13.04.15

gunter grass.jpg

 A morte de um escritor é sempre notícia. Günter Grass morreu, esta manhã. Ouvi na rádio e, depois, li nos jornais on-line.

 

Geralmente, conhecemos a vida e obra de um escritor nos obituários dos media. Raramente, um escritor é notícia. O lançamento de um livro, não é notícia. Uma entrevista de um escritor, não é notícia. Mas a sua morte é. E é nessa altura, com o corpo ainda quente, que (ironicamente) se começa a falar da sua vida.

 

Não será, apesar de tudo, o caso de Günter Grass. O escritor foi distinguido com o prémio Nobel, em 1999. E isso é notícia. Quando alguém recebe um Nobel, os media tentam perceber porquê.

 

Entretanto, esta tarde morreu outro escritor: Eduardo Galeano. Verifico que o tom das notícias é semelhante: um parágrafo para dizer quem é, outro para realçar as obras mais importantes, um breve resumo da sua vida familiar, o contexto político em que viveu.

 

Depois, nada. Volta-se à política e ao futebol. Até que morra um escritor de vulto, que não conhecemos, mas que lamentamos a sua morte.

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